Dólar sobe e ultrapassa os R$ 5 pela primeira vez desde outubro
Câmbio é influenciado pela Super Quarta: mudança no cenário de juros nos EUA e preocupações políticas no Brasil ajudam a pressionar a moeda
O dólar comercial fechou esta segunda-feira, 18, em alta de 0,6%, a 5,02 reais ultrapassando a marca dos 5 reais pela primeira vez desde outubro de 2023. A moeda americana tração às vésperas da Super Quarta, dia em que os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos tomam suas decisões de política monetária.
Segundo analistas, o dólar tem se fortalecido à medida que o cenário de queda de juros nos EUA se torna mais incerto. Nos últimos meses, dados de crescimento e mercado de trabalho aquecidos, ao lado de números de inflação ainda distantes da meta do Fed, aumentaram o ceticismo do mercado em relação a possíveis cortes nos juros. Divulgado na semana passada, o núcleo do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) teve alta anual de 3,8% em fevereiro – acima da expectativa de 3,7% e bem maior do que a meta de 2%.
Atualmente, 99% dos agentes de mercado acreditam que a taxa de juros permanecerá intacta aos 5,50% na reunião desta quarta-feira, de acordo com dados da ferramenta FedWatch. Para a maioria dos investidores (55,9%), o afrouxamento monetário só deve começar em junho. Trata-se de um aumento de pessimismo em relação ao início de 2024, quando quase 70% do mercado apostava em quedas ainda em março. Além disso, agora, cresce a expectativa de que os membros do BC americano sinalizem menos cortes nos juros neste ano.
“Nos EUA, você tem uma economia dinâmica, que cresce produtiva, e ao mesmo tempo entrega uma taxa de juros alta. Isso acaba atraindo o dinheiro para os Estados Unidos e afugentando o dinheiro do Brasil”, afirma Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos. Por aqui, sem grandes surpresas em dados recentes, a expectativa é de que o Copom mantenha seu ritmo de cortes de 0,50 p.p nas próximas reuniões.
O dólar ganha força também no cenário internacional. O índice DXY, que compara o dólar a uma cesta de moedas de países desenvolvidos, subiu 0,17% na sessão desta segunda. No acumulado de 2024, a alta é de 2,16%.
Impacto político
No front político, as tentativas de interferência do governo na Petrobras e a preocupação com o cenário fiscal também pesam para a depreciação do real. Segundo Marco Caruso, economista-chefe do PicPay, as pesquisas que mostram a queda de popularidade do presidente Lula ligam um sinal de alerta no mercado. “Historicamente, quando um governante vê um pouco de deterioração na sua popularidade, muitas vezes abre-se o cofre para gastar. E o Brasil não tem esse espaço fiscal para fazer isso. Por isso, há essa preocupação sobre uma nova rodada de deterioração nas questões fiscais brasileiras”, diz.