Dólar abaixo de R$ 5 veio pra ficar? Os fatores que explicam a queda
Moeda fechou a quarta-feira em R$ 4,94, menor patamar em 10 meses; especialistas apontam que ainda há espaço para que o dólar caia mais

Desde que o então ministro da Economia, Paulo Guedes, disse, em março de 2020, que o dólar só chegaria a 5 reais se o governo de Jair Bolsonaro fizesse “muita besteira”, a moeda brasileira não parou de se desvalorizar. Em pouco tempo após a declaração, o dólar saiu de 4,66 reais para 5,85 reais. Três anos depois, já com a economia sob a gestão de Fernando Haddad, a moeda brasileira, enfim, ensaia uma retomada frente ao câmbio internacional. Nesta quarta-feira, 12, o dólar atingiu a mínima desde junho de 2022, fechando o pregão a 4,941 reais. Apesar de o câmbio ser a coisa mais difícil para se prever em economia, a tendência é de valorização da moeda brasileira.
Especialistas dizem que fatores que estressavam o mercado, como a projeção de alta dos juros americanos e o clima de tensão entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Banco Central, estão sumindo do radar, deixando um cenário menos turbulento para o patamar do câmbio. “A gente está vivendo agora a perspectiva de juros menores, porque a inflação corrente está relativamente sob controle, o que sinaliza que existe espaço para que os juros caiam. Enquanto isso não acontece, isso se reflete em mais espaço para o dólar cair. É um tobogã até bater nos 4,80 reais no curto prazo, a não ser que encontre alguma resistência”, diz o economista André Perfeito.
O cenário externo também é favorável e fomenta a entrada maciça de dólares no Brasil. “A inflação americana veio abaixo do esperado. Os juros longos americanos caíram. Isso faz o dólar perder força no exterior”, afirma o economista Roberto Luis Troster, que já foi economista-chefe da Febraban, a federação dos bancos brasileiros. “Há um recorde de dólares entrando no Brasil. Isso acontece pelo diferencial que a nossa taxa de juros oferece. Só não sei se é realmente bom para o país, já que a gente paga os juros e eles não deixam nada aqui.” Troster projeta que a moeda americana cairá para algo entre 4,70 e 4,80 reais, mas condiciona isso a fatores que os políticos brasileiros adoram desafiar. “Se o governo não fizer nada de errado, se tentar fazer a coisa certa, tem tudo para que o dólar continue caindo, mesmo quando o Banco Central decidir cortar os juros.”
A maior dúvida entre os economistas é se a queda da moeda se acentuará após o Banco Central iniciar um regime de corte na taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano. “Eu imagino que o dólar caia no curto prazo, mas que talvez volte depois a bater os 5 reais”, afirma Perfeito. Ele aponta, no entanto, que uma eventual valorização das commodities no cenário global, diante de uma escalada nos conflitos geopolíticos entre China e Estados Unidos, pode fazer com que a moeda e a bolsa de valores brasileira consigam manter a atratividade por mais tempo. “A tendência é entrar mais dinheiro de fora aqui, porque, enquanto o mundo inteiro está envolvido em tensões geopolíticas, o Brasil não tem esse problema”, complementa.