Por Márcio Rodrigues
São Paulo – O mercado de juros futuros até ameaçou corrigir as fortes quedas dos últimos dias, ancorado, principalmente, na melhora do humor externo com a Europa. Essa recuperação de prêmios, no entanto, ficou apenas na ameaça. Alguns indicadores ruins nos Estados Unidos minaram o movimento de alta das taxas futuras, sobretudo dos vencimentos mais curtos, que acabaram o pregão bem próximos dos patamares de ajuste. As taxas dos contratos longos, porém, subiram. Os dados internos, como o avanço de 0,9% da produção industrial em dezembro, ante novembro, e a confirmação de que a meta de superávit primário do setor público foi alcançada, ficaram em segundo plano.
Assim, ao término da negociação normal na BM&F, o DI janeiro de 2013 (361.465 contratos) estava em 9,53%, de 9,51% no ajuste, enquanto o DI janeiro de 2014 (321.780 contratos) marcava 9,98%, de 9,97% na véspera. Entre os vencimentos mais longos, o DI janeiro de 2017, com giro de 28.545 contratos, indicava 10,93%, de 10,87% ontem, e o DI janeiro de 2021 (2.610 contratos) subia a 11,34%, de 11,24% no ajuste.
Lá fora, prevaleceu o otimismo com os acordos firmados na segunda-feira na cúpula da União Europeia, em Bruxelas. Os líderes europeus chegaram a um acordo oficial para a criação do Mecanismo de Estabilização Financeira (ESM), que passará a valer a partir de julho deste ano, com poder de 500 bilhões de euros. Mas esse quadro perdurou apenas durante a manhã. No meio do dia, uma bateria de indicadores fracos nos EUA acabou com o fôlego dos mercados. O índice de confiança do consumidor norte-americano medido pelo Conference Board caiu para 61,1 em janeiro, do dado revisado de 64,8 em dezembro e ante previsão de que o índice subiria para 68,5. Já o índice de atividade industrial de Chicago caiu para 60,2 em janeiro, de 62,2 em dezembro, e abaixo da estimativa de 62,3.
Internamente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou, além do crescimento da indústria em dezembro, os números referentes ao ano de 2011. Nesse período, esse setor teve leve alta de 0,30%, bem inferior ao aumento de 10,5% verificado em 2010. O resultado acumulado de 2011 ficou dentro do esperado por analistas consultados pelo AE Projeções, que previam aumento de 0,20% a 0,50%, e em linha com a mediana projetada para o período, de 0,30%.
Pelo lado das contas públicas, não houve surpresas. O Banco Central anunciou que conseguiu com folga de R$ 810 milhões cumprir a meta de superávit primário do setor público, que registrou superávit primário de R$ 128,710 bilhões em 2011 – equivalente a 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB). A meta prevista para o ano passado era de R$ 127,9 bilhões.Para 2012, boa parte do mercado continua cética em relação ao cumprimento da meta. Para muitos operadores e analistas, o contingenciamento do Orçamento, que deve ser anunciado pela equipe econômica em fevereiro, terá de ser elevado e crível. Caso isso se confirme, a possibilidade de a autoridade monetária levar a Selic ao patamar de um dígito sem pressões inflacionárias adicionais às já previstas ganha ainda mais corpo.