Diamantes high-tech: os incríveis avanços da arte da joalheria
Com a ajuda da tecnologia de ponta, são criadas algumas das peças mais espetaculares já produzidas. Os consumidores estão adorando
Quando Marilyn Monroe avisou ao mundo em forma de canção que os diamantes eram os melhores amigos das mulheres em sua memorável performance em Os Homens Preferem as Loiras, filme de 1953, era cedo demais para prever que, um dia, a ciência de ponta se encontraria com a arte da ourivesaria. Naqueles anos, começava a nascer em centros de pesquisas ali perto de Marilyn, nos Estados Unidos, e do outro lado do Atlântico, na Inglaterra, a hoje badaladíssima inteligência artificial (IA). A tecnologia que está revolucionando absolutamente tudo, mas tudo mesmo, com seus algoritmos e sistemas, em permanente processo de aprendizagem de máquinas em saltos quânticos, começa agora também a mexer com a delicada criação de peças que pousam em colos, dedos e braços femininos.
Nuage en Apesanteur (Nuvem sem Peso) é uma obra de arte. O colar da centenária grife francesa Boucheron tem exatos 4 018 diamantes intercalados com contas de vidro e incrustados em ouro branco de 18 quilates. Nas pontas, há 10 000 fios de titânio ultraleve. A joalheria usou a IA para desenvolver a estrutura dos fios de titânio de forma que eles sustentassem os diamantes e as contas de vidro como se fossem uma nuvem e suas gotas de água. Claire Choisne, a diretora de criação da casa que em 2021 completou 163 anos, encarou a responsabilidade de unir tecnologia à manufatura com um friozinho na barriga. “Quando alguém diz ‘O.k, faça o que quiser e nós o apoiaremos’, pode ser muito legal, mas também assustador”, contou Claire, sobre a peça de 679 000 dólares.
Como quem se vicia nas infinitas possibilidades de um trabalho, os profissionais da Boucheron beberam de uma outra inovação com pinta de ficção científica: a holografia. A técnica, desenvolvida pelo engenheiro húngaro Dennis Gabor, premiado com o Nobel de Física em 1971, usa efeitos de luz para a produção de imagens em 3D. Por que não aplicá-la com toques de ourives? O colar Holographique Carte Blanc é a resposta. A ideia era criar uma joia com as cores da aurora boreal. A aplicação de cerâmica feita com alta tecnologia e de micropartículas de metais preciosos garantiu o impacto à peça.
O fenômeno se espalha. A Chanel privilegiou a ousadia ao usar a tecnologia para lapidar um diamante de 55,55 quilates e com o formato e proporções da tampa de seu clássico perfume número 5. A Tiffany & Co. revelou seu diamante mais caro — um oval de 80 quilates, sem falhas, avaliado em 20 milhões de dólares — como atração central do colar The World Fair Necklace, inspirado em uma peça da maison de 1939. Graças à engenharia, a pedra foi cortada e lapidada de forma tão precisa que pode ser retirada do colar e colocada em um anel pelas mãos de um profissional da mítica empresa. A Cartier também entrou no jogo ao usar máquinas para garantir precisão nos cortes de anéis.
Para um setor marcado pelo tradicionalismo, pode soar estranha a adesão tão forte a novos meios de produção. As joalherias perceberam, porém, que a sofisticação da ciência se casa com o refinamento artístico. Desde que limites não sejam ultrapassados, claro. “Só não pode usar tecnologia para fazer peças parecidas”, diz o joalheiro André Caperutto, professor do Instituto Europeo di Design. “Uma joia não pode perder sua alma.” A combinação também agrada aos consumidores. Em 2021, só nos Estados Unidos espera-se que o mercado de joias alcance receita de 58 bilhões de dólares. No Brasil, ela deve chegar a 4,5 bilhões de dólares. “Uma joia é para sempre”, diz Roseli Duque, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos. Com a ciência de aliada, a eternidade é uma certeza.
Publicado em VEJA de 8 de dezembro de 2021, edição nº 2767