Desemprego em queda é um dos únicos motivos na economia para Lula celebrar
Taxa recua para menor patamar em uma década, mas também pode agravar problemas inflacionários em meio à deterioração fiscal

Em meio ao cenário de deterioração fiscal, o Brasil tem um único motivo para comemorar: a taxa de desemprego recuou para 7,1% no trimestre encerrado em maio, a menor para o período em uma década. Esse marco positivo, no entanto, é um raro ponto de luz em um cenário econômico cada vez mais incerto.
Apesar de o baixo desemprego ser uma boa notícia, ele traz consigo preocupações inflacionárias. Mais emprego significa mais consumo, o que pode pressionar os preços.
O Boletim Focus, relatório semanal do Banco Central, elevou a projeção para o IPCA, passando de 3,97% para 3,98%. Comparado há sete semanas, a escalada é ainda mais significativa: a expectativa estava em 3,86%.
Para controlar essa desancoragem das expectativas, a taxa de juros, atualmente em 10,5% ao ano, deve permanecer inalterada, contrariando expectativas anteriores de uma Selic terminal de 9% em 2024.
Esse cenário inflacionário e de juros elevados reacende temores de perda de controle dos gastos públicos. O Focus projeta um déficit primário de 0,70% do PIB, ficando distante do déficit zero almejado pelo governo.
A meta de zerar o déficit, já considerada inviável este ano, agora se torna ainda mais distante, colocando em xeque as metas dos próximos anos e gerando turbulência no mercado, com impactos na bolsa de valores e no câmbio.
O principal índice da bolsa de valores brasileira caiu mais de 10% em 2024, marcando o pior desempenho entre as principais economias globais.
Isso ocorre porque a percepção de risco do Brasil aumentou entre os investidores. O risco-país, medido pelo CDS de cinco anos, subiu 18,67%, aproximando-se dos seus maiores níveis desde novembro de 2023.
Fatores internos – como a revisão das metas de superávit, as dificuldades em compor receita, as declarações do presidente Lula que demonstram resistência ao corte de gastos e as críticas constantes ao Banco Central – estão contribuindo para essa deterioração.
Externamente, o cenário econômico nos EUA, com a inflação ainda longe da meta e o mercado de trabalho aquecido, também complica a situação. O Federal Reserve (Fed), banco central americano, pode demorar mais a reduzir os juros. Taxas de juros mais altas geram uma fuga de investimentos de países emergentes, como o Brasil, para países considerados mais seguros, como os EUA. Com menor circulação de dólares no país, o câmbio se deprecia.
A moeda brasileira acumula desvalorização de 12,4% no ano até junho. Nesta sexta-feira, 28, o dólar registrou uma nova escalada, chegando próximo de R$ 6.