Dados mostram PIB forte, mas confirmam tendência de desaceleração em 2024
Economia cresceu 2,9%, mas contou com a ajuda de setores como o agronegócio e as exportações, que não devem repetir o mesmo desempenho em 2024
O PIB brasileiro cresceu 2,9% em 2023, dentro das expectativas mais recentes dos economistas, mas bem acima das projeções do começo do ano, que contavam com um avanço menor do que 1% na economia. Os dados foram divulgados na manhã desta sexta-feira (1) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados, na análise de especialistas, mostram tendências difusas entre os setores e, também, confirmam uma desaceleração já aguardada para 2024.
“O Brasil já tinha crescido 3% em 2022 e, há mais de uma década, o país não crescia próximo de 3% por dois anos seguidos”, diz o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala. “Na ponta, porém, o dado já não é tão bom, e é possível ver uma desaceleração ao longo dos trimestres.”
O crescimento tanto no terceiro, quanto no quarto trimestre foi zero, depois de um avanço de 1,3% no primeiro, na comparação com o trimestre imediatamente anterior.
Entre os fatores que ajudaram a manter a atividade aquecida no ano passado estão o agronegócio, que avançou 15%, e as exportações, com alta de 9,1% no ano. Mas nenhum deles devem se repetir. “Definitivamente, as commodities, como as agrícolas e petróleo, ajudaram enormemente o PIB”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. “Mas, neste ano elas não terão a mesma intensidade, e, com ajuda da queda de juros, do impulso fiscal e do mercado de trabalho, a gente deve conseguir crescer algo perto de 2%.”
A projeção do governo para o crescimento do PIB de 2024 é de 2,2%. “A menor contribuição de benefícios fiscais deve ser compensada pelo avanço do crédito e resiliência no mercado de trabalho”, escreveu a Secretária de Política Econômico do Ministério da Fazenda em boletim divulgado após a divulgação do PIB, projeção confirmada também por Fernando Haddad a jornalistas. Atualmente, as projeções de mercado para o PIB em 2024 falam, na média, de um avanço de 1,75%, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central. Elas vêm, porém, sendo revisadas lentamente para cima nas últimas semanas.
Com alta de 3,1% e mostrando resiliência mesmo em um ano em que os juros ficaram acima de 13% na maior parte do tempo, o consumo das famílias em 2023 também surpreendeu os economistas. “É uma rubrica que também ajudou o PIB e foi muito motivada pelas injeções fortes de renda que foram feitas pelo governo, como o aumento do salário mínimo e o Bolsa Família de 600 reais”, diz Juliana Inhasz, economista e professora do Insper
É outro segmento, porém, que, a despeito do início da queda dos juros em agosto ter melhorado o ambiente para o consumo, chegou ao fim do ano pior do que começou: no quarto trimestre, o consumo das famílias caiu 0,2%. “Não adianta olhar para o que aconteceu na média do ano”, diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. “São os dados do último trimestre que nos dizem o que está acontecendo agora, e eles apontam para um cenário desafiador para o consumo, que não cresceu mesmo com o mercado de trabalho forte e a massa de rendimento crescendo.”