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Corrida por matérias-primas para carros elétricos é chance para o Brasil

O avanço dos veículos impulsiona o preço de níquel, cobalto e cobre, utilizados na bateria

Por Luana Zanobia Atualizado em 15 abr 2022, 17h58 - Publicado em 15 abr 2022, 08h00
DECISÃO PERSPICAZ - Elon Musk, na inauguração da nova fábrica em Berlim: o trilionário selou acordo secreto com a Vale -
DECISÃO PERSPICAZ - Elon Musk, na inauguração da nova fábrica em Berlim: o trilionário selou acordo secreto com a Vale – (Christian Marquardt/EPA/EFE)

Dono de uma fortuna estimada acima dos 260 bilhões de dólares, o empreendedor sul-africano-canadense Elon Musk com frequência dá a impressão de viver no mundo da lua, com seus negócios futuristas na área espacial, como a empresa de foguetes SpaceX e a de satélites Starlink. Mas, ao mesmo tempo, ele se preocupa em manter os pés cada vez mais aferrados ao solo — e ao subsolo — quando trata de negócios, digamos, mais terrenos. Em um tuíte recente, o empresário demonstrou interesse em entrar para o ramo da mineração, em particular a extração de lítio, como forma de manter o fluxo do metal necessário para a produção das baterias que impulsionam os veículos de sua montadora, a Tesla. Segundo ele, a cotação da matéria-­prima está tão fora de controle que a empresa teria de entrar na mineração e no refino do material em alta escala, “a menos que os preços melhorem”. “Não há falta do produto, já que o lítio está em quase todas as partes da Terra, mas o ritmo de extração e refino é lento”, completou.

A preocupação de Musk é justificada e envolve uma das commodities essenciais para o funcionamento dos veículos movidos a eletricidade. O mesmo acontece com outros produtos como cobre, níquel e cobalto, todos fundamentais principalmente em um cenário em que se propõe o uso da eletricidade como substituta do petróleo na propulsão de automóveis mundo afora. Musk está apostando que a compra de veículos movidos a bateria vai se expandir de forma exponencial nos próximos anos. A prova mais inequívoca disso é que, em um período de menos de um mês, ele promoveu as inaugurações oficiais de duas novas fábricas da sua montadora, uma em Berlim, no fim de março, para atender ao mercado europeu, e outra em Austin, no Texas, neste mês, para abastecer os Estados Unidos. Chamadas de “gigafábricas” por seu excêntrico proprietário, elas têm instalações do tamanho de 100 campos de futebol e a capacidade de dobrar a produção atual da Tesla, para 2 milhões de veículos elétricos por ano.

Embora seja reconhecido pela dimensão e vanguardismo, o colosso automobilístico de Musk não está sozinho na exploração desse novo mercado. O grupo Volkswagen anunciou, no mês passado, que diversos de seus modelos elétricos estão esgotados até 2023. No ano passado, as vendas desse tipo de veículo pelo conglomerado alemão dobraram, para mais de 450 000 unidades. E a ambição vai além dos planos de negócios das empresas. Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden almeja que metade da frota de veículos do país seja de propulsão elétrica até 2030.

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Tais planos e seus números superlativos fundamentam a preocupação com as commodities desse novo ramo industrial — e não se restringem apenas a Elon Musk. O lítio, que tem mais de 80% da sua destinação para a composição de baterias de diversos tipos, é negociado hoje no patamar de 80 000 dólares por tonelada, aumento de mais de 400% no preço em um ano. Cobre, níquel, cobalto seguem na mesma esteira de altas. O movimento foi especialmente acentuado com o desequilíbrio no preço do petróleo decorrente da invasão da Ucrânia pela Rússia.

RIQUEZA MINERAL - Unidade da Vale no Canadá: níquel e cobalto extraídos em minas estrangeiras -
RIQUEZA MINERAL - Unidade da Vale no Canadá: níquel e cobalto extraídos em minas estrangeiras – (AGÊNCIA VALE/.)

Trata-se de uma oportunidade para o Brasil, que tem reservas e já explorou esses minerais em algum momento. “A oferta global de todas essas commodities está muito atrasada em relação à demanda. Os investimentos em mineração estão tímidos no mundo inteiro”, diz Gilberto Cardoso, CEO da consultoria Tarraco Commodities. Com a terceira maior reserva de níquel do mundo, atrás apenas de Indonésia e Austrália, o Brasil possui hoje índices de extração modestos, de apenas 100 000 toneladas por ano. Boa parte da mineração hoje ocorre justamente na cidade chamada Niquelândia, em Goiás, onde também existem jazidas de cobalto.

arte commodities

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A Vale, maior mineradora brasileira, também produz níquel e cobalto nas minas que pertencem à sua subsidiária no Canadá, e cobre em Carajás, no Pará. Atualmente, cerca de 5% do níquel de alta pureza produzido pela Vale é usado na fabricação de baterias para os veículos elétricos, mas a meta é aumentar essa participação para 30% a 40% no médio prazo. A Tesla, por sinal, fechou um acordo de cláusulas secretas com a brasileira, revelado no último mês, para fornecimento do metal. “O acordo entre Tesla e Vale é muito mais estratégico do que propriamente comercial. Faz sentido para as empresas que serão grandes consumidoras de níquel no futuro fazerem acordos para garantir esse fornecimento”, diz Daniel Sasson, analista de mineração do Itaú BBA.

Como é do seu feitio, Musk demonstrou perspicácia ao assinar esse contrato. Neste ano, o preço do níquel chegou a ultrapassar a marca de 100 000 dólares a tonelada, quase o dobro da máxima histórica em quinze anos, obrigando a Bolsa de Metais de Londres a suspender as negociações, depois de o valor ter subido 250% em dois dias. Após isso, o preço se acomodou e o metal está sendo negociado no patamar de 32 500 dólares. Ainda assim, trata-se de uma alta de 95% em relação ao ano passado. A Vale, que figurava entre as três maiores companhias produtoras de níquel do mundo até 2020, hoje é a maior do mercado. No ano passado, produziu 168 000 toneladas, ultrapassando o gigante russo Nornickel. A estimativa para este ano é de até 190 000 toneladas de níquel e 355 000 toneladas de cobre, frente aos 300 000 de 2021. Vem por aí uma grande revolução nesse campo. Com a popularização dos carros elétricos se prenunciam o ocaso dos combustíveis fósseis e o surgimento de uma nova corrida em busca de minerais até então não tão preciosos assim. Mas agora eles valem ouro.

Publicado em VEJA de 20 de abril de 2022, edição nº 2785

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