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Correios: com menos funcionários, reclamações por atrasos disparam

Sindicato diz que há déficit de 4.000 funcionários só em São Paulo e que equipe se reveza para atender as regiões da cidade

Por Fabiana Futema e Felipe Machado
Atualizado em 5 mar 2018, 17h49 - Publicado em 28 fev 2018, 14h41

Não é de hoje que os consumidores se queixam do atraso na entrega de encomendas e correspondências pelos Correios. Mas o problema se agravou ainda mais no final do ano passado, período em que muitas compras são feitas pela internet – as vendas de Natal acontecem logo na sequência da Black Friday, que no Brasil acontece muito mais na internet.

Levantamento feito pelo site Reclame Aqui mostra que foram registradas 3.704 queixas contra os Correios em dezembro, uma alta de 142% em relação a novembro. O ProconSP recebeu 512 reclamações sobre a empresa em 2017, ante 493 em 2016. Das ocorrências no último ano, 156 se referem à não prestação de algum serviço, e 33 a extravio de postagem.

“Pedido postado dia 30/01/18 com previsão de entrega até o dia 22 de fevereiro. E até agora nada, já fiz a reclamação no site e nada. Já liguei 2 vezes e também nada. Não sei mais o que fazer. Além de ter que ir buscar nos Correios uma entrega em que pago frete, ela ainda não chega na data certa”, escreveu um consumidor no Reclame Aqui.

Quem faz compras em sites de outros países sofre ainda mais com o atraso na entrega. “Hoje faz 93 dias que comprei um arco de violino pelo AliExpress, sendo que o vendedor enviou o mesmo no dia 25 de novembro de 2017. Acontece que os Correios daqui não lançaram no sistema, não recebi minha mercadoria até hoje. Entrei no site Fale com os Correios e lá fala que não tem nada registrado. É mais do que óbvio que minha encomenda chegou no país”, escreveu um outro na semana passada.

Nenhuma das 44.960 reclamações feitas contra os Correios no Reclame Aqui foi respondida pela empresa.

Uma das explicações mais óbvias para os problemas dos Correios é a falta de funcionários. A empresa não realiza concurso para contratação de funcionários desde 2011. Soma-se a isso o fato de os Correios terem aberto diversos programas de demissão voluntária no ano passado numa tentativa de reduzir custos.

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O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo, Grande São Paulo e de Sorocaba (Sintect-SP) avalia que há um déficit de 4.000 carteiros só na capital paulista.

O diretor de comunicação do sindicato, Douglas Melo, diz que a falta de funcionários faz com que agências tenham que alternar as zonas da cidade que recebem correspondência. O sindicato ressalta que desde 2011 não há concursos.

“Os carteiros vão para um setor, e voltam a ele depois de dois ou três dias. Quando retornam, o serviço está dobrado. É uma bola de neve. Tem agência em Taboão da Serra que abriu no  domingo porque não estava dando conta”, disse.

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No fim de janeiro, os Correios extinguiram a função de operador de triagem, que tem cerca de 7.000 cargos no país, o que deve agravar ainda o problema. “Vai tirar carteiro da rua e jogar na área de triagem de mercadorias”, avalia Melo.

Quem faz negócios e depende dos Correios para que as entregas sejam realizadas também sofre com o problema de atraso na entrega de mercadorias. Esse é o caso do Mercado Livre, que atendeu 10 milhões de vendedores e 34 milhões de compradores no ano passado, sendo metade deles no Brasil. Leandro Soares, diretor da Mercado Envios, diz que o problema com atrasos já havia sido detectado, mas ficou ainda pior em novembro, dezembro e janeiro.

“A gente faz um monitamento e consegue saber o porcentual de entregas feitas dentro do prazo. Também conseguimos monitorar as reclamações”, afirma Soares.

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Em seu quinto déficit, os Correios acumulavam um prejuízo de 2,03 bilhões de reais até novembro de 2017, uma alta de 17% em relação ao ano anterior. Relatório divulgado pela Controladoria Geral da União afirma que os Correios apresentaram “crescente degradação na sua capacidade de pagamento no longo prazo, aumento do endividamento e da dependência de capitais de terceiros, e principalmente, redução drástica de sua rentabilidade, com a geração de prejuízos crescentes a partir de 2013”. De 2011 a 2016, o patrimônio líquido da empresa sofreu uma redução de 92,63%.

Entre os principais fatores apontados para a situação financeira da empresa pela CGU estão a elevação dos custos com pessoal em 62,61%, que chegaram a 12,351 bilhões de reais em 2016.

O relatório conclui que se não forem tomadas medidas para ampliar a receita e reduzir custos, a empresa “irá se tornar gradativamente dependente de recursos transferidos pela União para o seu custeio”.

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A crise dos Correios acabou refletindo também no fundo de pensão dos funcionários da empresa, o Postalis. Em janeiro, a Polícia Federal deflagrou uma operação para investigar a atuação de uma quadrilha que atuava desviando recursos do Postalis. Segundo as investigações, os desvios causaram um prejuízo de ao menos 6 bilhões de reais ao fundo.

Outro lado

Em nota, os Correios afirmam que a entrega de correspondências e encomendas está regular em todo o país. “Situações pontuais podem ocorrer e de imediato são adotadas soluções para cada caso. A entrega de encomendas continua sendo diária, ainda que tenha ocorrido expressivo aumento no volume de objetos nos últimos meses. A média do prazo da entrega de Sedex entre capitais tem sido de aproximadamente 1,5 dia. Número importante, tendo em vista o tamanho do país e as condições de infraestrutura existentes”, informa a estatal.

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Questionado por VEJA, sobre eventual planos de privatização da empresa, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações negou qualquer iniciativa nesse sentido.

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