Copom: Por que a mudança do plural para singular chama atenção do mercado
Alteração no 'forward guidance' mostra incerteza sobre a inflação e necessidade de flexibilidade na condução da política monetária

Das 694 palavras escritas no comunicado do Comitê de Política Monetária que anunciou a nova redução da taxa Selic em meio ponto percentual nesta quarta-feira, 20, duas delas monopolizam a atenção dos investidores e sinalizam um novo ciclo na condução da política monetária. O Banco Central trocou do plural para o singular o trecho conhecido como ‘forward guidance’, que mostram quais são os próximos passos do colegiado.
Nos comunicados de cortes dos juros, de julho até janeiro, o BC sinalizava que haveriam cortes da mesma magnitude, de meio ponto percentual nas “próximas reuniões”. Agora, o BC sinalizou o corte apenas para a “próxima reunião”. Segundo o colegiado, há uma elevação da incerteza no cenário inflacionário e, com isso, uma necessidade de flexibilidade na condução da política monetária. Ou seja, o Banco Central deve acompanhar de perto os dados da economia para avaliar o grau das reduções após a reunião de maio. A aposta do mercado financeiro é que os juros encerrem o ano em 9%, ou seja, 1,75 ponto percentual abaixo da taxa atual.
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em fevereiro, o indicador acelerou para em 0,83% e acumula 4,5% em 12 meses — chegando no teto da meta estabelecido neste ano pelo Conselho Monetário Nacional. O aquecimento do mercado de trabalho cria uma resiliência na inflação de serviços, e por isso, o comitê deve analisar mais de perto a situação, podendo diminuir o ritmo de cortes a partir da reunião de junho.
“É interessante notar que, mesmo em relação a esse guidance, há um elemento mais importante, que dá um sentido mais hawkish: quando o Copom pontua que prevê essa redução de mesma magnitude na próxima reunião, é acrescentado um condicional, com a adição da frase “em se confirmando o cenário esperado”. Isso reforça uma cautela. Há uma incerteza, existe a retirada do guidance para as próximas, mantendo no singular, e mesmo assim houve a opção de condicionar ao cenário se desenrolar como esperado”, afirma Marco Antonio Caruso, economista-chefe do PicPay.
O mercado chama atenção que, além da mudança do plural para o singular, o comunicado vem em tom mais duro, reforçando a cautela. “A autoridade monetária se mostra mais conservadora do que o mercado esperava e de fato demonstra maior propensão a continuar um ciclo de maneira mais prudente e cautelar na sua etapa final”, afirma Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez.
Balanço de riscos
No comunicado, o Banco Central afirma que a conjuntura atual é caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.