Compartilhamento de bens de alto luxo cresce cada vez mais no Brasil
Já é possível adquirir uma parte de um helicóptero ou de um jato, contanto que o dono esteja disposto a dividir a propriedade com desconhecidos
Compartilhar é bacana e, acima de tudo, inteligente. O comportamento do consumidor de alto padrão vem se transformando nos últimos anos e valoriza cada vez mais a relação custo-benefício. Por que pagar tanto para usar tão pouco? Hoje é possível adquirir uma parte de uma mansão de frente para o mar, de um iate, de um helicóptero ou jato, contanto que o dono esteja disposto a dividir a propriedade com desconhecidos. O compartilhamento de bens é um serviço que existe no Brasil há mais de dez anos, mas que ganhou força na era da diversificação de investimentos.
Nesse modelo, os proprietários são, na verdade, cotistas com fatias igualitárias. O bem é deles, de fato e de direito, enquanto a empresa que intermedeia a transação fica responsável por organizar o revezamento dos usuários e pela manutenção do veículo ou imóvel. Detalhes como a decoração ou o cardápio mudam de acordo com quem chega. “A compra é compartilhada, mas o uso é exclusivo. É tudo personalizado, para que o cotista se sinta efetivamente o dono”, explica Marcus Matta, CEO da Prime You, pioneira do setor no país, com mais de vinte ativos entre helicópteros, aeronaves, embarcações, carros esportivos e imóveis, cujo valor total é avaliado em 380 milhões de reais.
Há normas que podem variar de uma empresa para outra, mas todas seguem um padrão. Cada bem tem de três a quatro cotistas — um jato Phenom 300 foi oferecido recentemente em três cotas e uma lancha Phantom 500, em quatro. Se um deles quiser vender sua parte, a empresa envolvida atuará como uma corretora. O agendamento para uso dos bens deve ser feito via aplicativo ou pela central de atendimento, e há taxas mensais fixas e variáveis, de acordo com a utilização. Na Prime You, caso um avião esteja em manutenção ou a serviço de um cotista, a empresa consegue remanejar o voo para outro de seus ativos, o que deixa os clientes tranquilos quanto à disponibilidade.
Marcus Machado, empresário do ramo de reciclagem, já tem duas cotas de barco e está pensando em adquirir uma de avião. Ele costuma levar a esposa e os filhos de Curitiba, no Paraná, onde residem, para relaxar na marina do Balneário Camboriú, em Santa Catarina. “No início, tive certa insegurança. Em nossa cultura, ainda há uma necessidade de ter a posse do bem”, ele admite. Apesar disso, Machado, que é cliente da Prime Share, empresa catarinense de compartilhamento, diz que tudo funciona bem e ele não precisa se preocupar com manutenção. Uma vez que as empresas do setor cresceram de 30 % a 40 % de 2019 para 2020, o negócio tem potencial interessante para os próximos anos, com mais pessoas compartilhando bens. Detalhe: como os números do quadro acima mostram, o preço ainda é bastante salgado.
Publicado em VEJA de 9 de junho de 2021, edição nº 2741