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Como o PIX promete mudar a relação do brasileiro com transações digitais

Sistema de pagamentos, que estreia em novembro, concorrerá com bancos e empresas de cartões

Por Josette Goulart Atualizado em 4 jun 2024, 15h12 - Publicado em 25 set 2020, 06h00

Já pensou em sair de casa só com o telefone celular, sem precisar se preocupar em carregar a carteira? Sem cartão, sem dinheiro, sem moedas. A partir de novembro, o brasileiro precisará apenas de seu smartphone para fazer pagamentos — de um saco de pipocas no carrinho na calçada a um automóvel de luxo. Esse cenário se tornará realidade com o PIX, o novo sistema de pagamentos do Banco Central que vai permitir transferências monetárias por meio de transações rápidas e digitais em segundos, 24 horas todos os dias. Será uma espécie de TED ou DOC feita no celular, mas livre de tarifas para as pessoas físicas. O consumidor nem precisará saber os dados bancários da pessoa ou empresa que vai receber o dinheiro. Basta um número de telefone ou um QR code e, é claro, dinheiro na conta. Os bancos e as fintechs só poderão cobrar taxas das empresas que aderirem ao serviço, ainda que algumas, como o Nubank, já tenham anunciado que oferecerão o recurso de forma gratuita a todos.

A ausência de custos, combinada com a simplicidade e a velocidade da transação, indica que o PIX vai provocar grande impacto entre os bancos e as empresas de processamento de pagamentos por maquininhas para cartão. Estima-se uma perda de receita de cerca de 19 bilhões de reais por ano para esses dois setores. Esse volume de recursos diz respeito ao montante que as instituições financeiras arrecadam cobrando tarifas de transferências de TED e DOC, uso de terminais de autoatendimento, taxas de transações de cartão e tarifas para gerar boletos de pagamentos. Tudo isso pode, em parte, ser substituído no novo modelo. Com o PIX, o consumidor poderá abrir mão de sacar dinheiro e pagar direto por suas compras com uma simples transferência. O Banco Central prevê ainda, em fases mais adiantadas, o uso do PIX para saque de dinheiro em qualquer loja ou mercado, contratação de crédito e pagamentos agendados. Outra mudança será sentida na quitação de contas atrasadas, o que atualmente exige reemissão de boletos e, em alguns casos, espera de vários dias para a confirmação de pagamento e reativação de serviços. O BC estuda até integrar, no futuro, o sistema a similares de outros países, permitindo transações rápidas globais.

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ATENTO À MUDANÇA - Maximiano, da Stone: maquininhas com o PIX – (Luke Garcia/Divulgação)

Um novo salto deverá ser sentido quando o Banco Central autorizar a entrada no sistema de pagamentos do WhatsApp Pay, um serviço do Facebook em parceria com bancos e bandeiras de cartões. “Será uma operação semelhante a mandar um emoji. A diferença é que a mensagem seguirá com um PIX no lugar da figurinha”, explica o consultor João Bragança, da consultoria Roland Berger. O Whats­App chegou a anunciar sua estreia em pagamentos no Brasil, mas foi barrado pelos órgãos de regulação por ser um modelo fechado e não prever o uso do PIX. Caso o WhatsApp Pay venha a ser conectado com o sistema do BC, o negócio das maquininhas de pagamento sofrerá um novo golpe. A Roland Berger estima que o PIX eliminará 13 bilhões de reais em receitas de tarifas, e que essas empresas terão de focar nas contas digitais e serviços agregados. A Stone, uma startup do ramo, já se prepara para a mudança. Segundo o diretor Breno Maximiano, a partir de novembro, todos os seus aparelhos vão receber pagamento via PIX, integrado à conta digital Stone.

Em sua estreia, o PIX exigirá que seus usuários tenham acesso à internet. O Banco Central, porém, já estuda formatos que possam ser utilizados mesmo sem a conexão à rede móvel, como a utilização de um QR code armazenado no telefone. Diretor do Banco Central, João Manoel Pinho de Mello explica que algumas estratégias deverão garantir o sucesso do PIX, como a obrigatoriedade das 34 instituições com mais de 500 000 contas cadastradas a aderir ao sistema. A operação já deve começar com muito mais do que isso, pois 930 operadores se cadastraram para os testes. Outro ponto a favor é que a pandemia mudou os hábitos do brasileiro. Pesquisa da consultoria Bain & Company mostra que 44% da população economicamente ativa fez sua primeira operação bancária on-line pelo celular a partir do início do isolamento social. “O auxílio emergencial estimulou a abertura de contas digitais”, diz Pinho de Mello.

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Se de um lado os grandes bancos correm o risco de perder receitas com o PIX, de outro, há chance de ganhos. Para Edson Costa, diretor do Banco do Brasil, haverá economia com a rede de caixas automáticos e contratação de empresas para transporte de valores, por exemplo. Até chegarmos a esse futuro, os bancos devem começar a convocar seus clientes a aderir ao PIX a partir de 5 de outubro. No dia 3 de novembro virão os testes. E, a partir do dia 16, o jogo começa para valer.

Publicado em VEJA de 30 de setembro de 2020, edição nº 2706

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