Como estaria a inflação sem BC independente de fato? A Turquia mostra
O país adotou redução nos juros, movimento contrário ao da teoria convencional do mercado para controle dos preços; inflação já chega a quase 80%

O Brasil enfrenta uma inflação de 11,73% em doze meses e atualmente uma das maiores taxas de juros do mundo, como forma de buscar frear essa inércia de alta dos preços. O compromisso assumido pelo Banco Central está em elevar os juros para ancorar a meta. Essa é a primeira vez que o banco central brasileiro enfrenta uma crise global e descontrole de preços depois que foi aprovada no Congresso a independência da autarquia, responsável pela condução da política monetária. A regra protege o BC de intervenções governamentais, algo que já vinha acontecendo de fato nas últimas décadas, mas sem a oficialização das leis.
Apesar de muitos países conviverem com bancos centrais independentes, a lei que rege esse estatuto pode ser facilmente manipulável em alguns casos, é o que vem acontecendo na Turquia. Em março o presidente turco Recep Tayyip Erdogan demitiu o presidente do banco central do país. Por lá, o presidente pode demitir a diretoria quando fica insatisfeito com os rumos tomados pela autoridade monetária. Atualmente, a inflação já chega perto de 80%, a maior em 24 anos. Para um grupo de economistas independentes do Inflation Research Group, a inflação é ainda maior e já estaria no patamar de 175,55% acumulados até junho.
Apesar do cenário desafiador em todo o mundo, as cifras alarmantes são atribuídas por críticos como resultado da política monetária conduzida pelo país. Erdogan rejeita a teoria convencional do mercado de elevação dos juros para controlar os preços. Contrariando esse pensamento, o país segue na linha oposta, de redução dos juros no país. De setembro até janeiro deste ano, o país já reduziu em 5 pontos percentuais a taxa de juros do país, estabelecida agora no patamar de 14%. Desde então, a lira – a moeda turca – já desvalorizou 48% em doze meses.
A inflação do país já ultrapassou até mesmo a da Argentina, que acumula alta de 60% nos preços. O país é outro exemplo ruim da condução da política monetária, e se junta a muitos da América Latina que ainda não possuem uma autoridade monetária realmente independente do governo. Dos países do G20, o Brasil era o único que não tinha autonomia, até a mudança de seu status em 2021.