Como a nova modalidade do Pix promete baratear suas compras
O chamado Pix Garantido vai permitir aos usuários parcelarem suas compras sem cobrança de taxas; Itaú será primeiro banco a oferecer a solução
Com pouco mais de um ano de existência, o Pix já faz um enorme sucesso no Brasil. O sistema de pagamentos instantâneos desenvolvido pelo Banco Central democratizou o acesso ao sistema financeiro, movimentando mais de 500 bilhões de reais por mês com seus 117 milhões de usuários. O sistema que hoje funciona nos mesmos moldes de um cartão de débito – porém totalmente digital, agora também deve funcionar como crédito, pelo menos essa é a ideia do Banco Central.
O Pix Garantido vai permitir aos usuários parcelarem suas compras, no mesmo funcionamento de um cartão de crédito. A solução faz parte da agenda evolutiva do Banco Central para o Pix, que já é o segundo meio de pagamento mais utilizado pelos brasileiros. O Itaú Unibanco foi o primeiro a abraçar a proposta do BC e está trabalhando nessa nova formatação do Pix. O projeto está em fase de teste no sandbox regulatório, ambiente experimental de inovações financeiras do Banco Central. A previsão do BC é que o novo Pix na função crédito entre em funcionamento no segundo semestre deste ano.
O projeto, além de representar mais um passo rumo ao fim do cartão físico, também pode gerar uma verdadeira revolução na indústria de cartões e de meios de pagamentos. Com a concessão do crédito por meio do Pix, a dispensa de uso de um cartão físico e maquininhas deve deixar de lado também as bandeiras e credenciadoras, principais intermediárias das operações financeiras com cartões. “O dono do arranjo – a “bandeira” – será o BC. Assim, o custo transacional irá diminuir”, diz Marcelo Martins, diretor executivo da ABFintechs. Sem esses participantes, as operações devem ficar mais baratas, tanto para o usuário quanto para o lojista. Com as operações na maquininha, as taxas cobradas pelas administradoras variam de 1,5% a 5% para os lojistas, de acordo com Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBCV). Mas, no novo sistema, o lojista não precisará mais pagar essas taxas, podendo ofertar produtos sem o repasse desse custo ao usuário, portanto produtos mais baratos. Enquanto o usuário poderá parcelar suas compras sem pagar nenhuma taxa, os famosos juros aplicados em cima dos parcelados.
Em um momento de alta de juros, com a Selic devendo bater 11,75% ao final do ano, a expectativa é grande para que a solução possa dar um estímulo na economia. Com a escalada da Selic para controlar a inflação, a taxa de juros para parcelado do cartão de crédito ficou 5,1 ponto percentual mais caro em setembro do ano passando, saindo de 163,6% para 168,7% ao ano. Para este ano, o Banco Central divulgou uma lista com a taxa de juros cobrada pelas principais instituições financeiras no crédito parcelado, que variam de 7,78% ao ano a 654,23%.
Para os especialistas entrevistados por Veja, o cartão físico ainda vai “viver”, porém a adoção de tecnologias como Bluetooth e NFC – tecnologia de troca de dados sem fio por aproximação – podem melhorar a experiência de compra por Pix e gerar uma migração maior e cada vez mais intensa para o pagamento digital. “As operações com cartão ainda vão crescer, mas provavelmente menos do que o Pix”, diz Martins, da ABFintechs. Para Thiago Brehmer, sócio líder de serviços financeiros da Grant Thornton Brasil, com a adoção dessas tecnologias para melhorar a experiência do usuário no meio de pagamento digital, o Pix pode ganhar uma grande vantagem competitiva e, futuramente, substituir o cartão físico. “O Pix na modalidade crédito vai se tornar relevante no dia a dia das instituições financeira em termos de volume de transações e com certeza vai aumentar o engajamento junto aos usuários”, diz.
O Pix hoje é bastante usado em transações entre pessoas físicas, mas ganha cada vez mais força no varejo. Famosas redes de supermercados, como Pão de Açúcar e Extra, já oferecem a solução como meio de pagamento. Soluções de pagamentos sem uso dos cartões já são utilizadas por alguns novos modelos que surgiram no mercado recentemente, como o PicPay. O aplicativo brasileiro funciona como uma carteira digital e permite que o valor acumulado na carteira possa ser transacionado para pagamento de contas e de compras.
Mas, para o especialista da ABFintechs, a solução que vem ganhando popularidade não deve pôr fim aos cartões. “É um passo para transformar o mercado de crédito, mas não representa o fim dos cartões físicos porque o ato de pagar com Pix ainda precisa melhorar muito no ambiente físico”, diz.