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Como a educação profissional se tornou estratégica para a J&F

Holding que controla a maior empresa de proteína animal do mundo aposta na formação dos próprios funcionários em busca de melhores resultados

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 8 ago 2024, 10h07 - Publicado em 7 ago 2024, 11h21

Poucos desafios do mundo corporativo são, ao mesmo tempo, tão desejados e difíceis de serem atingidos quanto o de criar um time de líderes identificados com a cultura da empresa. Os departamentos de recursos humanos costumam investir quantidades generosas de tempo e dinheiro com o treinamento de pessoal, mas, nem sempre, conseguem forjar chefes de equipe com domínio completo dos negócios e capacidade para fazê-los crescer na direção esperada. A resistência de quem traçou trajetórias profissionais distintas, em muitos casos, acaba falando mais alto. Na J&F, a solução para o impasse tem vindo de uma área que não costuma despertar o interesse das principais companhias brasileiras, mas que se tornou absolutamente estratégica para a holding que controla a maior produtora de proteína animal do mundo: o ensino profissionalizante, por meio do investimento social privado. 

Todos os anos, 350 alunos ingressam no Instituto J&F, uma escola técnica que forma profissionais especializados em negócios, tecnologia da informação e ênfase em produção (veterinária). A maioria inicia os estudos no Ensino Fundamental 2, no sexto ano, antes mesmo de qualquer aspiração profissional se tornar realidade. Ao longo de todo o curso, que se estende pelos três anos do Ensino Médio, além de se aprofundar em todo o conteúdo obrigatório e previsto pelo Ministério da Educação, os estudantes aprendem habilidades específicas do mundo empresarial, como vendas, marketing, computação, contabilidade e  finanças. Da sala de aula, são alçados diretamente para o mercado de trabalho, algo raro em um país em que o jovem pena para obter o primeiro emprego. “Eles não são obrigados a seguir na empresa, mas nossa taxa de absorção de alunos egressos do instituto é de 84%”, diz a diretora pedagógica Odete Perroni Lopes.

Tamanha identificação é cultivada diariamente no ambiente escolar. A começar pela localização da instituição, que foi construída como um anexo da sede do conglomerado. Apenas uma passarela, sem qualquer catraca, separa as classes dos escritórios onde diariamente são feitas transações milionárias. É comum ver os estudantes circulando por ali, tomando café na companhia de altos executivos. Nas salas, que não são separadas dos corredores por paredes, os alunos se dividem em grupo de cinco integrantes, acomodados em mesas redondas, cada um com seu lap top, para acompanhar as aulas planejadas sob material pedagógico próprio. Todas as tarefas são feitas online, com base na atividade fim do grupo. Matemática, por exemplo, é ensinada utilizando balanços contábeis e português em relatórios de plano de negócios. “Discutimos o modelo por dez anos, já que muita gente dizia que o projeto social não podia estar alinhado com o interesse da empresa”, conta Joesley Batista, presidente do Instituto e membro do Conselho da JBS. “Mas é importante que seja assim, senão será o primeiro custo a ser cortado durante uma crise”. 

Até agora, os investimentos só cresceram e não foram diminuídos nem nos momentos em que o nome da empresa foi parar no noticiário por conta da Operação Lava Jato. Somente no ano passado foram 110 milhões de reais aplicados na educação dos 1 067 alunos matriculados. Nenhum deles paga mensalidade, mas se o fizessem o valor não sairia por menos de 6 500  reais por mês, em uma escola particular de São Paulo, com a diferença que, a partir do nono ano, os alunos passam a ganhar para estudar. Na condição de menores aprendizes com assinatura em carteira, recebem uma ajuda de custo inicial de 400 reais, que aumenta gradualmente até chegar a 3 000 reais, no fim do terceiro ano do Ensino Médio. Nesta etapa, parte da formação passa a acontecer dentro da empresa: quem está na turma de negócios é direcionado para lojas da marca Swift, enquanto o pessoal da TI é integrado em diversas subsidiárias. É trabalho de gente grande.  “Por minhas mãos passam mais de um milhão de reais por mês”, explica Paulo Moreira, 18 anos, que acaba de assumir uma das unidades da marca, depois de formado. “Até eu me espanto com o quão longe eu cheguei em tão pouco tempo”. 

A garantia de emprego tem feito a diferença na vida de muitos alunos e de seus pais. Pesquisas internas mostram que a formação garante um incremento de renda de até 81%, o que torna o processo de seleção um dos mais concorridos do país – 14 candidatos por vaga se inscrevem para o teste de conhecimentos, seguido de entrevistas. “Todas as escolas ensinam a ser subordinados, mas o artigo raro no mercado é liderança. Nós formamos pessoas para serem chefes”, aponta Batista que acaba de obter a autorização do MEC para abrir uma faculdade de negócios, que deve seguir os mesmos moldes, com oito cursos de formação superior. O sonho é inverter a equação: fazer com que os produtos e soluções desenvolvidos do Instituto passem a ditar os rumos da empresa. Se depender da garotada, a meta não demorará a ser atingida.

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