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Como a alta dos títulos americanos pode afetar os investimentos no Brasil

Possibilidade de Selic subir pode valorizar os títulos brasileiros, mas tudo depende do ajuste fiscal e da segurança do país aos investidores internacionais

Por Luisa Purchio Atualizado em 27 jan 2021, 00h29 - Publicado em 26 jan 2021, 21h05

Desde o dia 5 de janeiro, quando ocorreram as eleições da Geórgia e foi definido um Congresso majoritariamente democrata, o dólar, que já estava a níveis historicamente baixos no mercado internacional, entrou em uma trajetória diferente do que seria esperado com a onda azul. Com os democratas à frente do poder, era natural que o mercado esperasse mais derretimento da moeda americana por conta de mais gastos governamentais, mas essa expectativa não resultou em queda neste período de 21 dias, de lá até aqui. Chamado de índice dólar, o DXY, que mede a força da moeda em relação a uma cesta de moedas, passou a subir. Até o dia 5 de janeiro, ele estava em um ciclo de queda e atingiu 89,44, mas desde então sofreu altas e atingiu o pico de 90,77. E, nesta terça-feira, 26, variou para baixo, mas continuou acima do patamar dos 90 pontos. Essa mudança mexe com o rendimento pago por títulos americanos. Algo que pode ter repercussões em todo mundo, inclusive no Brasil.

Esta leve pressão para cima tem nome: inflação. “A maior expectativa por estímulos fiscais, que naturalmente é reforçada com a Janet Yellen à frente do Tesouro, criou maiores expectativas de inflação no futuro e isso gerou maior interesse pelo dólar, pressionando as taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos”, diz Alejandro Ortiz, economista da Guide. O Yield to maturity (YTM), rendimento pago no vencimento dos títulos americanos, estava abaixo de 1% para os títulos de 10 anos ao longo de toda a crise da Covid-19, mas, após o resultado das duas cadeiras da Geórgia para o Congresso que garantiu maioria aos democratas, conseguiu ultrapassar o patamar dos 1%.

Por um lado, o maior rendimento de títulos americanos pode afugentar os investimentos para os países emergentes, que perderam vantagem em seus títulos de renda fixa quando comparados aos rendimentos dos títulos americanos. Mas os analistas creem que logo o dólar deverá entrar em um ciclo de queda novamente e por isso não se tornam uma ameaça para os emergentes.

A quarta-feira, 27, será um dia de agenda importante para os mercados: o Federal Reserve anunciará a sua decisão sobre a taxa de juros e haverá a conferência de imprensa do Fomc, que define a taxa de juros. E a boa notícia para os mercados é ser praticamente certa a continuidade da política “dovish”, de baixa de juros, incentivando o dólar mais baixo, e com o uso de mais auxílios fiscais. “O Fed já sinalizou diversas vezes que as taxas de juros básicas de curto prazo devem ficar em patamares extremamente reduzidos até pelo menos 2023. Isso tira um pouco de pressão do índice dólar e a tendência de médio prazo é que ele caia com a adoção de uma política monetária extremamente acomodatícia, frouxa, e estimulativa”, diz Ortiz, da Guide.

No Brasil, a pressão do risco fiscal do país sobre o real ocorrida nos últimos dias foi aliviada nesta terça-feira, 26, e o dólar comercial fechou em baixa de 3,304%, para 5,32 reais. A ata da reunião do Copom na semana passada contribuiu com esse quadro. O documento não garante que as taxas de juros do país não subirão a partir de março deste ano e afirmou que isso depende do índice de inflação. Com a possibilidade de alta do juros dos títulos do país, os investidores internacionais se dispõem a investir mais aqui, o que naturalmente aumenta a oferta do dólar no país e diminui o seu preço em real. Enquanto o juros dos títulos americanos não sobem mais, a possibilidade de alta da Selic do Brasil pode ser uma boa notícia para o câmbio do país. Resta saber se o governo conseguirá dar segurança aos investidores internacionais tanto por meio de discursos quanto por meio de ações.

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