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Como a alta da Selic explica a atual instabilidade do dólar

O câmbio pode voltar a ceder - ao menos um pouco - por consequência da maior entrada de capital estrangeiro com o aumento da Selic

Por Luana Zanobia 1 fev 2022, 17h22

Dois anos atrás, em meados de fevereiro de 2020, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez declarações bastante polêmicas quando afirmou que o dólar alto era bom, até porque estaria desbalanceado a ponto de que “todo mundo estava indo para a Disney, inclusive empregada doméstica”. O dólar já chegou a 1,76 reais em 2010, hoje está na casa de 5,25 reais. Mas, o câmbio pode voltar a ceder – ao menos um pouco – por consequência da maior entrada de capital estrangeiro no país com a taxa básica de juros (Selic) em dois dígitos.

Pela quinta semana consecutiva, as projeções do mercado para o câmbio estão estabilizadas no patamar de 5,60 reais, não variaram nem para cima e nem para baixo. O dólar começou a escalar em 2019, durante o primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro. Naquele ano, ele encerrou em 3,95 reais, o patamar mais alto nos últimos doze anos. Em 2020, subiu para 5,16 reais e até novembro de 2021 estava em 5,37 reais, segundo dados do Ipea. Segundo especialistas entrevistados por VEJA, o ciclo de aumento de taxa de juros cria um enorme espaço para a queda do dólar. “Com a atração de capital estrangeiro no país, aumenta a oferta de dólar, ocasionando na queda da taxa de câmbio, que é o que tem acontecido nas últimas semanas”, diz Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest. Projeções de várias intuições apontam para um dólar entre 5,50 a 5,80 reais em 2022, devendo encerrar o ano em 5,55 reais.

Por ora, a Selic aguardada de 10,75% em fevereiro – com consenso de alta de  1,5 ponto percentual de aumento para 90% do mercado na próxima reunião do Copom, nesta quarta-feira, 2 – vem sendo a principal bomba propulsora do retorno dos investidores estrangeiros para os ativos brasileiros. Algumas casas de análise já aguardam outro aumento de 1,5 ponto percentual para março, atingindo o patamar de 12,25%, quando a expectativa era de 11,75% ao final do ano. “As altas já estão sendo precificados no preço dos ativos”, diz Davi Lelis, especialista da Valor Investimentos. Os efeitos dessa precificação já são notados no Ibovespa, que encerrou janeiro com alta acumulada de 6,98%, sendo esse o melhor mês desde 2020.

Mas os fatores internos políticos e fiscais devem continuar pressionando o câmbio para patamares acima de 5 reais, ainda bem distante da “festa danada” que tanto parecia incomodar Guedes, quando o dólar era de 1,80 reais.  Se não fosse todo o imbróglio fiscal criado pelo próprio governo, que acabou com o teto de gastos para bancar medidas populistas visando a reeleição de Bolsonaro, o câmbio poderia, de fato, vir abaixo.

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Além disso, as sinalizações do aumento da taxa de juros nos Estados Unidos para controlar uma inflação histórica no país americano também deve anular os efeitos positivos do aumento da Selic no câmbio e na economia brasileira de modo geral. “A subida de juros americana pode afetar a taxa de câmbio brasileira, porém, o real já se depreciou muito ao longo dos últimos dois anos, o que nos dá uma certa tranquilidade, ou seja, os nossos problemas internos são mais graves”, diz Orlando Bachesque, assessor de investimentos da Alta Vista Investimentos. O aumento da taxa de juros em países desenvolvidos faz com que o Brasil ganha concorrentes de peso e perca a atratividade. O movimento deve gerar uma nova fuga de investidores estrangeiros, que vão optar por alocar recurso em países com menor prêmio de risco.

O cenário cria uma verdadeira sinuca para o Banco Central, que terá de domar sua política contracionista para não penalizar o crescimento da economia, mas também sem perder a atratividade de capital estrangeiro, que pode ser fundamental para arrefecer o câmbio do país.

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