Com fim do auxílio emergencial, inadimplência volta a assombrar brasileiro
Avanço do desemprego, da inflação e das taxas de juros elevam inadimplência no país; segundo o Serasa, fenômeno já atinge 63 milhões no Brasil

Em tempos de inflação alta e taxa de desemprego ainda elevada, a inadimplência começa a impactar a vida das famílias brasileiras. Segundo balanço divulgado pelo Serasa nesta quarta-feira, 1º, a situação de inadimplência já atinge 63,5 milhões de brasileiros, atingindo o patamar mais alto desde julho de 2020. De acordo com o estudo, que leva como base dados referentes ao mês de outubro, o número de dívidas totais no Brasil registrou uma alta de 2,31% em relação ao mês de setembro, totalizando 213.268 milhões de contas. O valor das dívidas também aponta para um crescimento, com avanço de 3,37% no valor total na comparação mensal, somando 253,65 bilhões de reais, uma média de 4.000,61 reais por pessoa.
Para especialistas, a situação ainda não é desesperadora, mas a tendência de alta no indicador liga um sinal de alerta. “A família que está tentando equilibrar o orçamento está dando de cara com o aumento dos juros, com a inflação, além do mercado de trabalho que apresenta um crescimento insuficiente para absorver toda a demanda por emprego”, diz Fabio Bentes, economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “O problema não é o endividamento crescer. Isso até seria uma sinalização saudável para a economia, um sinal de confiança na manutenção do emprego, mas o comportamento da inadimplência começa a preocupar, até porque 2022 será um ano mais complicado em relação ao crescimento econômico.”
Intitulado “Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil”, o estudo do Serasa denota que a maior parte das dívidas está concentrada no segmento de bancos e cartões de crédito, representando 28,7% do total. Na sequência, com 23,5%, aparecem as dívidas de tarifas básicas, como água e luz. O varejo corresponde a 13% do montante. Segundo o Banco Central, a taxa de juros média em relação a operações com pessoas físicas subiu de 41,7% ao ano para 43,8% em outubro, maior nível desde abril de 2020, quando bateu em 44,7% ao ano. “São condições que fazem com que haja um aumento da inadimplência”, afirma Bentes.
Outro fator preocupante e que pode indicar uma aceleração da inadimplência no país é o fim do pagamento do auxílio emergencial por parte do governo federal, que serviu para suprir a perda de rendimentos dos trabalhadores informais e de desempregados durante a pandemia de Covid-19. “A inadimplência cresceu muito rapidamente entre janeiro e abril do ano passado. Depois disso, veio o auxílio emergencial que, de certa forma, acomodou esses números. Mas, agora, a tendência voltou a ser de alta”, analisa Bentes, da CNC.