Colunista do ‘Financial Times’ vê risco de bolha no Brasil
Crédito farto, consumo alto e falta de reformas estruturais fazem com que tudo no país esteja excessivamente caro, diz Moisés Naím
“Parem antes que a bolha estoure”, alertou nesta quarta-feira o economista Moisés Naím, colunista do jornal britânico Financial Times e ex-editor-chefe da revista Foreign Policy. A bolha a qual Naím faz referência arma-se no Brasil. Para ele, o acesso maior ao crédito pela população nos últimos anos – importante motor do consumo e do crescimento da economia brasileira nos últimos anos -, associado à euforia dos investidores estrangeiros e aos gargalos que sufocam a capacidade do setor produtivo em responder à crescente demanda, torna tudo muito caro. Essa combinação, alerta o analista, pode se tornar o maior problema do país nos próximos anos. “Se os êxitos econômicos (brasileiros) ainda não resultaram em uma bolha financeira, isso logo poderá acontecer”, afirmou.
Superaquecimento – Naím afirma que não há dúvidas acerca do superaquecimento da economia brasileira. O colunista enfatizou o nível a que chegou a concessão de empréstimos no país, cerca de 45% do Produto Interno Bruto (PIB), e a baixa propensão da população em se incomodar com os altos juros destas operações. Atualmente, um quinto da renda familiar é comprometido com o pagamento de dívidas, ressalta o especialista.
O colunista afirma que o país vivencia uma explosiva combinação de fatores. Segundo ele, existe uma entrada excessiva de moeda estrangeira, haja vista que recursos externos aportam no Brasil em busca da rentabilidade oferecida pela taxa Selic, a segunda maior do mundo. Como conseqüência deste intenso fluxo de capitais, o real está muito valorizado em relação às moedas internacionais. Os investidores estrangeiros estão eufóricos, assim como as famílias que não param de consumir. Todos esses elementos culminam para um só fenômeno: os preços estão inflados. Mesmo sendo ainda pobre, o Brasil é um dos países mais caros do mundo, diz Naím. Os valores dos imóveis comerciais no Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo, começam a ficar mais caros que os de Nova York.
Diante deste cenário, Naím avalia que o país vive uma situação preocupante. Mesmo que a expansão da economia doméstica seja palpável, ela descansa em hastes pouco rígidas: nem o crédito, nem os gastos públicos poderiam sustentar o atual ritmo de crescimento. Como lembrou Naím, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou uma série de reformas estruturais, como a da Previdência, e investimentos em infraestrutura à deriva. Isso significa, segundo ele, que a presidente Dilma Rousseff tem escolhas a fazer, algumas bem impopulares, como trabalhar para esfriar o consumo dos brasileiros. “Reformas lentas e graduais não farão diferença. O humor dos investidores pode mudar em um segundo e todo o crescimento da economia brasileira pode estancar. Isso já foi visto em outros mercados emergentes, como México e Rússia”, afirmou Moisés.