China impõe restrições de semicondutores aos EUA — e isso é ruim ao Brasil
Governo vê 'ecossistema favorável' para o Brasil entrar na cadeia global, mas apenas nas etapas finais de produção

A China impôs nesta semana restrições de importação de dois materiais considerados essenciais para a produção de semicondutores: gálio e germânio. A medida foi vista como retaliação às medidas impostas pelos Estados Unidos contra o seu setor de tecnologia.
De acordo com uma diretriz do Ministério do Comércio chinês, que entrou em vigor na terça-feira 31, os exportadores chineses desses metais deverão, a partir de agora, ter permissão, além de fornecer informações sobre o destinatário final. A disputa pelo mercado de semicondutores está pegando fogo. Os EUA multiplicaram medidas para restringir o acesso de empresas chinesas aos semicondutores mais avançados, em nome da “segurança nacional”. A China, por sua vez, busca autonomia no design da peça.
A briga entre americanos e chineses tem impacto no Brasil. As restrições chinesas sobre as matérias-primas batem de frente com um plano do governo americano, que autorizou um investimento de 52 bilhões de dólares para a produção de semicondutores. Durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Casa Branca, em fevereiro, os americanos sinalizaram um investimento para que o Brasil fizesse parte de etapas de produção da cadeia.
“O Brasil pode ter capacidade de back end, encapsulamento de chips, mas não a produção de semicondutores”, afirmou Marcio Elias Rosa, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Segundo ele, “o Brasil não tem dinheiro” para essa produção, que de fato é cara e específica. “A China está tentando e não consegue, mas podemos fazer uma parte da cadeia”, completa.
O Brasil tem 11 empresas na cadeia de produção de semicondutores, porém apenas na etapa final da produção. O governo brasileiro chegou a estudar reabrir o Centro de Excelência em Eletrônica Avançada (Ceitec), estatal de semicondutores que entrou em processo de liquidação na gestão anterior, mas o projeto não prosperou. “O que a gente precisa é atrair investimento para que a gente possa ter indústria se instalando e investindo no Brasil”, afirma Rosa.
Os microchips são essenciais para a produção de grande variedade de dispositivos eletrônicos, desde máquinas de café a carros elétricos, assim como smartphones e armas. Durante a pandemia, houve uma quebra da cadeia de semicondutores por causa de gargalos logísticos. O efeito foi sentido por indústrias do mundo inteiro. No Brasil, as montadoras foram atingidas frontalmente e tiveram que parar linhas de produção devido à falta de componentes eletrônicos na fabricação de veículos.