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China deve ter o maior poder de decisão no banco dos Brics, diz banqueiro

Presidente do Goldman Sachs na África do Sul, Colin Coleman confia na criação do banco como indutor do crescimento, mas reconhece hegemonia chinesa em relação às outras nações do grupo

Por Talita Fernandes, de Fortaleza
15 jul 2014, 15h21

Com a criação de um banco de desenvolvimento como alternativa ao Banco Mundial, os países dos Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – têm um enorme desafio pela frente: criar uma instituição pragmática e que possa promover projetos de desenvolvimento nos emergentes a fim de tentar recuperar parte do brilho perdido nos últimos anos, com a redução nas antes invejáveis taxas de crescimento. Durante a VI Cúpula dos Brics, realizada esta semana em Fortaleza e em Brasília, o presidente do Goldman Sachs na África do Sul, Colin Coleman, conversou com o site de VEJA sobre a importância da criação do banco. Na visão dele, mesmo com crescimento mais baixo, os Brics ainda são os países com maior potencial de expansão no futuro e o momento ainda é oportuno para criação do Novo Banco de Desenvolvimento, cujo anúncio é esperado para esta terça-feira. Sobre à escolha da sede e da presidência da nova instituição, Coleman explica que o mais importante no momento é levar em conta a necessidade de uma gestão pragmática e eficiente para evitar uma instituição burocrática e falida. Mas reconhece que a China deve ter maior peso nas tomadas de decisão.

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O Novo Banco de Desenvolvimento tem potencial para competir com outras instituições semelhantes?

O Banco de Desenvolvimento dos Brics combina tanto capital quanto gestão, e tem expertise e habilidades de gestão por trás de uma missão para conduzir desenvolvimento e infraestrutura, considerando que isso será feito por meio de parcerias público-privadas. A ideia é formar um banco de desenvolvimento com esses poderes emergentes dos países dos Brics cooperando para estabelecer uma instituição que possa identificar projetos e construir negócios com análise competitiva e capacidade de execução.

O banco será criado no momento em que os Brics perderam um pouco de seu brilho, em termos de crescimento. Quando isso vai se reverter?

Países como Brasil e África do Sul têm mostrado taxas de crescimento um pouco desanimadoras e a inflação está acima do esperado. Já na China, o crescimento tem sido sólido, mas não está mais no patamar de 10% visto no passado. A Índia mostra novas promessas com a chegada do novo governo, e a Rússia tem suas questões próprias. Os Brics não têm um crescimento brando e, se olharmos ao longo do tempo, são os países com maior crescimento potencial.

O fato de a China ser a segunda maior economia do mundo e com muito mais poder do que os outros quatro países poderia provocar algum desequilíbrio no banco?

Acho que a realidade é que a China sabe, e o restante do mundo também, que ela é o país proeminente entre os Brics em poder e em recursos. A questão é como eles gerenciarão isso dentro dessa nova realidade. Minha experiência é de que eles são extremamente inteligentes. Eu acho que nesse contexto diplomático eles serão muito espertos na forma de interagir e que vão tratar as outras partes com igualdade. Eu acho que eles vão ter uma voz forte, e talvez a mais alta no final, mas vão conduzir esses assuntos de uma forma muito inteligente.

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Como o banco pode ajudar os Brics, países ainda muito carentes de infraestrutura, caso do Brasil, por exemplo?

O ponto é que cada país tem um estágio de desenvolvimento. A China, por exemplo, tem um elevado grau de desenvolvimento em infraestrutura, mas ainda tem mais coisas para serem feitas na área de serviços. O Brasil é um país enorme com grandes necessidades de infraestrutura. Eu ouvi que a Copa do Mundo foi útil para catalisar projetos de desenvolvimento, mas que mais pode ser feito. É o mesmo caso da África do Sul: houve um grande catalisador de desenvolvimento de aeroportos, estádios, estradas para a Copa do Mundo, mas ainda há muito mais para ser feito. Eu acho que estes países estão em estágios distintos de desenvolvimento, mas combinando um ao outro eles podem ser mais eficazes em promover o desenvolvimento e fazer parcerias especiais porque, obviamente, todos os países do mundo podem operar com o Banco Mundial, o FMI e outros órgãos, mas esse será um projeto focado, com atenção especial para os assuntos dos Brics.

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Embora Xangai seja a favorita, Johanesburgo também é considerada uma possível sede do banco. Qual seria a melhor escolha?

Eu, pessoalmente, tenho mais facilidade para falar sobre a África do Sul. Mas eu acho que quem paga a maior parte do cheque é quem, provavelmente, tem o voto decisivo. Mas eu não me surpreenderia se a sede for em Johanesburgo ou Xangai. Mas essa é uma decisão interna, que fica para os políticos. Uma coisa importante é que, no fim das contas, mesmo com a decisão sobre as fontes de recursos, a sede e o conselho, o que se precisa é ter os gestores corretos, tomando as decisões corretas e se aprofundando nos detalhes do projeto. Eu acho que isso vai levar algum tempo, talvez uns dois anos, se essa cúpula decidir pela criação do banco. Vai levar, pelo menos, uns dois anos, para que o banco esteja perfeitamente funcionando. Então, quanto antes isso for resolvido, melhor.

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Como o senhor vê a possibilidade de o Brasil presidir o banco. E quais são os pontos de gestão que têm de ser adequados?

A função da organização pode ser tanto burocrática, empreendedora, ou de cultura lucrativa que seja efetiva e produtiva. Essas são coisas que vão partir dos líderes que vão criar o banco. Eles terão de fazer as coisas acontecer praticamente todos os dias. Eu acho que é muito importante termos um banco produtivo, empreendedor. A pessoa que for colocada na presidência do banco é que vai tomar as primeiras decisões. É isso que vai decidir se essa será uma instituição efetiva ou uma da série de instituições fracassadas que são muito burocráticas e políticas, mas pouco eficazes. É preciso ser pragmático.

Muitos estão descrentes quanto à possibilidade de o banco não vai sair do papel. Qual a opinião do senhor?

Os Brics têm bancos maravilhosos como o ICBC, da China; o Itaú-Unibanco do Brasil, o Standard Bank e o Fisrt Rand Bank, da África do Sul; e o ICICI, da Índia. São grandes instituições financeiras e são eficientes no setor privado.

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