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Carta ao Leitor: Vitória da autonomia

Ao resistir a pressões de Lula para cortar juros, Campos Neto contribuiu para debelar a inflação e, assim, beneficiou um governo que insiste em criticá-lo

Por Redação Atualizado em 4 jun 2024, 10h33 - Publicado em 16 jun 2023, 06h00

Depois de um período de preocupação, o Brasil finalmente encara o dragão da inflação com olhos razoavelmente tranquilos e esperançosos — ele dorme, como se hibernasse. Mais uma vez, o país parece ter domado a fera (pelo menos é o que indicam recentes dados econômicos). Em maio, o Índice Geral de Preços — Disponibilidade Interna, um dos termômetros da inflação brasileira, recuou 2,33%. Detalhe: foi a maior deflação registrada pelo indicador desde julho de 1951. O IPCA, a inflação oficial, subiu apenas 0,23%, abaixo das expectativas do mercado. Em junho, o resultado pode vir negativo. Em resumo: nos últimos doze meses, a alta de preços chegou a 3,94% — degrau baixo e louvável, comparado ao de outros países. Nos Estados Unidos, a carestia anual é de 4%. No Reino Unido, sempre cuidadoso com a estabilidade monetária, a taxa chegou a 7,8%.

Trata-se de um movimento que pode ser atribuído, em parte relevante e decisiva, à rígida política monetária do Banco Central (BC), presidido por Roberto Campos Neto desde 2019 — ao manter os juros em patamares altos, a entidade controlou a inflação. Sabe-se, dentro da cartilha das boas práticas, que o melhor modo de frear a gastança de governos, empresas e cidadãos é aumentar os juros. É vitória inquestionável do edifício de conhecimento técnico, das decisões de especialistas, contra a gritaria da política e o populismo barato. Campos Neto resistiu a pressões do presidente Lula para cortar os juros, determinação que fez brotar uma situação irônica: o Banco Central contribuiu para debelar a inflação e, assim, beneficiou um governo que reiteradamente o critica. E, agora sim, a partir dos próximos meses, uma pequena queda de juros pode ser um caminho de possibilidades concretas.

O controle inflacionário é fundamental — e para medir sua relevância basta um passeio histórico. Em 1989, último ano de governo do presidente José Sarney, o índice anual chegou a estratosféricos 1 764,8%. Em 1993, na administração Itamar Franco, houve um recorde inacreditável: 2 477% em doze meses. Eram tempos em que o dinheiro perdia o valor da noite para o dia, os salários sofriam reajustes sem nunca recuperar de fato as perdas e as máquinas remarcadoras de preço funcionavam sem cessar nos supermercados. A classe média recorria a aplicações financeiras como o overnight para se proteger dos prejuízos, recurso inexistente para os mais pobres, os primeiros a sentir os percalços em espirais inflacionárias. Uma tragédia. Essa engrenagem daninha seria freada somente em 1994 com a criação do Plano Real pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Por meio de um engenhoso e bem-sucedido conjunto de medidas lastreadas em uma nova moeda pareada com o dólar, o dragão inflacionário foi enfim derrotado. Renasceu com o tempo, ensaia levantar-se aqui e ali, pisca, mas é crucial mantê-lo atordoado, como fez Campos Neto. Celebre-se, portanto, a fundamental autonomia do Banco Central, pilar da democracia.

Publicado em VEJA de 21 de Junho de 2023, edição nº 2846

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