Carta ao Leitor: Nasce uma nova era
Economia brasileira pode se expandir em até R$ 180 bilhões por ano com entrada na quinta geração da transmissão de dados por telefonia móvel, o chamado 5G
Houve um tempo em que o passaporte para o futuro no Brasil pesava 350 gramas, tinha 22,8 centímetros de altura (sem contar a antena) e custava o equivalente a 3 000 dólares. O ano era 1993 e a maravilha em questão, o primeiro celular vendido no país. Batizado de Motorola PT-550 — e apelidado carinhosamente de “tijolão” por seu tamanho e peso —, esse pioneiro da telefonia móvel tinha funcionalidades inéditas, como identificador de chamadas, agenda de números e uma bateria para sustentar até duas horas de conversação ou quinze horas em stand-by. Tal prodígio, hoje perdido no passado, foi superado por tecnologias cada vez mais avançadas que, em alguns momentos, promoveram uma ruptura radical. Foi o que aconteceu em 2007, com a chegada do iPhone, o mais icônico entre os smartphones, aparelhos que mudaram a maneira de se relacionar com a tecnologia no dia a dia, como mostrou a capa de VEJA de janeiro daquele ano.
Na semana passada, é importante ressaltar, ocorreu um desses episódios que abrem caminhos inequívocos — e transformadores — rumo ao futuro. Em meio às perspectivas turvas no ambiente econômico, desacreditado por seu desrespeito a regras como o teto de gastos e pela paralisação de reformas importantes, o governo finalmente deu um passo decisivo numa direção correta, chacoalhando o clima de prostração que toma o país. Encabeçado por Fábio Faria, o Ministério das Comunicações conduziu com maestria nossa entrada na era da quinta geração da transmissão de dados por telefonia móvel, o chamado 5G, com o leilão das concessões para operação do novo sistema.
A grande diferença do 5G para os modelos atuais é a velocidade de transmissão de dados — 100 vezes maior que a do 4G — e a capacidade de conexão de aparelhos — cerca de 1 milhão por quilômetro quadrado, contra 60 000 da geração anterior. Em termos práticos, isso significa que um filme poderá ser baixado em 21 segundos, contra mais de 35 minutos de hoje em dia. A experiência imersiva com realidade virtual e realidade aumentada, ainda restrita, poderá ser explorada de forma muito mais ampla e acessível, enquanto atividades como pagamentos virtuais, automação de processos industriais, mobilidade autônoma, inteligência artificial e interconexão de equipamentos eletrônicos ganharão um impulso inédito. Estudos apontam que com o 5G a pleno funcionamento a economia brasileira pode se expandir em até 180 bilhões de reais por ano, algo como 2% do PIB, e alcançar até 1,2 trilhão de dólares em 2035. Mantidos os cronogramas idealizados pelo governo federal no processo de concessão, as capitais de alguns estados começarão a ter acesso à tecnologia a partir de julho de 2022 — daqui a alguns meses, portanto. Quando isso acontecer, os brasileiros serão testemunhas de algo mágico: o início de uma nova era.
Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2021, edição nº 2763