Carta ao leitor: Há crescimento, mas no aperto
Indicadores de aumento das receitas de grandes empresas proporcionam uma perspectiva positiva para a economia, mas dívidas e juros altos preocupam
As previsões de desempenho da economia brasileira em 2024 estão caminhando para um repeteco do obtido no ano passado, quando o produto interno bruto cresceu 2,9%. Nada mau para um país com média de expansão anual de 0,3% na década perdida que foi até 2021. A evidência é de que engatamos uma nova marcha, na casa de 2,5% ao ano, algo razoável. A taxa de desemprego, pelo último dado disponível, caiu para 6,9%, e o Brasil tem agora um recorde de 102 milhões de pessoas ocupadas.
Olhando também para esse copo meio cheio, a reportagem “Está bom. Mas está ruim”, a partir da pág. 14, traz um balanço exclusivo com dados de 300 companhias de capital aberto. Esse grupo de elite viu a receita conjunta aumentar 5%, para 1,4 trilhão de reais no primeiro semestre. Os lucros operacionais avançaram 12%. Um exemplo de empresa em evolução exuberante é o Mercado Livre, tema da reportagem de capa (na pág. 24) desta edição, que inclui uma entrevista com seu fundador, Marcos Galperin. Os três maiores bancos privados, por sua vez, publicaram resultados que revelam um lucro de 35 bilhões de reais nos primeiros seis meses do ano, 16% mais que na primeira metade de 2023.
Mas, como sempre, o copo mantém um volume vazio, bem preocupante. O mesmo conjunto de empresas reporta um endividamento líquido de 1,2 trilhão de reais. As dívidas subiram 10%. No semestre, 100 bilhões de reais foram pagos em despesas financeiras. Aí está o grande senão dessa história.
Os juros altos — uma marca do Brasil há décadas — continuam ditando a situação, penalizando devedores e restringindo investimentos. Na base desse custo elevado do dinheiro está a situação das contas públicas e sua gestão insegura. De novo, há uma perspectiva de alta da taxa Selic, dadas as preocupações com a inflação. O equilíbrio de políticas, fiscal e monetária, para melhorar esse cenário ainda é uma quimera. Quando isso for alcançado, é possível que o crescimento deixe de ser com aperto. E possa ir de razoável a bom, ou ótimo — como o país precisa.
Publicado em VEJA, agosto de 2024, edição VEJA Negócios nº 5