PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

Carta ao Leitor: Chance desperdiçada

O viés populista e eleitoreiro de Bolsonaro devorou por completo as ideias liberais e modernizantes de Guedes

Por Da Redação Atualizado em 4 jun 2024, 12h45 - Publicado em 4 fev 2022, 06h00

Entre os 57,7 milhões de brasileiros que votaram em Jair Bolsonaro para presidente no segundo turno das eleições de 2018, uma parcela considerável de eleitores decidiu apoiar o ex-capitão pela perspectiva de avanços econômicos em seu governo — uma injeção liberal numa máquina que ainda depende em demasia do Estado. Tal raciocínio se sustentava na figura de Paulo Guedes, o Posto Ipiranga do novo presidente, devidamente qualificado para suprir as deficiências técnicas do chefe. Instalado em um superministério com poderes inéditos, seguidor da Escola de Chicago e dos princípios do prêmio Nobel Milton Friedman (1912-2006), Guedes imprimia ao governo um cunho liberalizante, pró-mercado e antiestatista, e desenhou um ambicioso projeto de mudar o país. Sua intenção era promover uma virada semelhante — ou ainda mais significativa — à ocorrida no Plano Real, dos anos 1990.

Em julho de 2019, com seis meses no cargo, o Posto Ipiranga acenou com o fim da era de voos de galinha na economia brasileira, marcada por decepcionantes taxas de crescimento e estruturas anacrônicas. Uma reportagem de capa de VEJA naquele momento mostrava que o ministro se preparava para desembrulhar, nos três anos seguintes, um pacote de medidas capazes de injetar 3,6 trilhões de reais na economia em uma década. A perspectiva com o programa apelidado de Plano Guedes era dobrar o PIB per capita do país nos próximos dez anos e promover, finalmente, a evolução que todos desejamos. Hoje, infelizmente, o que se tem é um resultado pífio. As privatizações, que prometiam render 990 bilhões de reais, tiveram avanços constrangedores, representados nas vendas de participações em algumas empresas públicas. A reforma tributária, avaliada em 450 bilhões de reais, foi desfigurada e emendada de tal forma que dificilmente chegará ao formato previsto — isso se sair do papel. A reforma administrativa, fundamental para dar agilidade ao Estado brasileiro e acabar com os privilégios corporativistas do funcionalismo, foi esquecida.

Seria injusto dizer que o país não teve nenhum avanço nesse período. A reforma da Previdência aconteceu — ainda que em tamanho e abrangência mais modestos que o planejado —, houve ganhos nas áreas de concessões e regulação em setores significativos, como de saneamento e gás. Mas, em essência, o que se viu nos últimos dois anos e meio foi o comportamento abilolado do presidente devorar por completo as ideias liberais e modernizantes de Guedes. O viés corporativista, estatizante, populista e eleitoreiro de Bolsonaro matou no berço medidas que enxergava como risco a seu projeto de reeleição. O resultado: uma agenda promissora foi jogada no lixo. Perdeu o país e perderam os brasileiros.

Publicado em VEJA de 9 de fevereiro de 2022, edição nº 2775

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.