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Brasil ressurge como opção aos investidores estrangeiros

País volta a atrair capital internacional, mas o novo governo precisa se esforçar para que a boa fase não acabe prejudicada por erros e decisões equivocadas

Por Luisa Purchio, Luana Zanobia 31 dez 2022, 08h00

O Brasil é pródigo em desperdiçar oportunidades. Em diversas ocasiões, quando o cenário se torna favorável, alguns acontecimentos ou más decisões dos líderes políticos fazem o bom momento ser desperdiçado em seu pleno potencial. Foi assim quando, em 2018, uma greve dos caminhoneiros interrompeu a recuperação econômica que vinha acontecendo durante o governo legado por Michel Temer. Já nos últimos dois anos de gestão de Jair Bolsonaro, o país não se beneficiou tanto quanto poderia de um boom dos preços globais das commodities. Ao contrário do que acontece nessas ocasiões, o real até se desvalorizou, à medida que o presidente intervinha em estatais e ameaçava ruptura institucional.

O presságio arrisca se repetir mais uma vez, quando a conjuntura externa, que prometia ser das piores, sinaliza uma trégua para os países emergentes. Se o ambiente externo vem se desanuviando, as incertezas locais, causadas por discursos de injustificável afronta do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ao mercado financeiro e aos defensores de maior responsabilidade nas contas públicas, podem pôr tudo a perder.

Os primeiros meses de governo de Lula prometiam uma situação externa desafiadora. A literatura econômica costuma registrar que países emergentes, em especial com as características do Brasil, costumam sofrer falta de investimentos quando os Estados Unidos e a Europa aumentam os juros. A lógica é simples. Os investidores passam a priorizar a compra dos confiáveis títulos públicos dos países desenvolvidos, os mais seguros investimentos do mundo e que se tornam mais rentáveis com os juros mais altos. Assim, o dólar sobe e os investimentos minguam em regiões de mais risco.

Mas as coisas estão acontecendo de forma diferente desta vez. Nas crises anteriores, os países emergentes sofreram fuga de capital, com a valorização do dólar e uma aversão ao risco. Agora, o acúmulo de reservas em países como o Brasil, especialmente em dólar, montou uma barreira à deterioração das condições internacionais. Os emergentes também se anteciparam na subida dos juros ao sofrer antes com a alta globalizada da inflação. Então, enquanto se fala sobre até quando os Estados Unidos e a Europa vão subir suas taxas, a discussão no Brasil trata de quando o Banco Central começará a baixar a Selic.

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Isso faz com que investidores internacionais procurem oportunidades de aportes diretos em negócios ou em ativos financeiros em países emergentes. E, na comparação relativa com os outros principais destinos desses recursos, o Brasil aparece bem posicionado. Basta ver a situação de seus companheiros de Bric. A Rússia se tornou pária internacional ao invadir a Ucrânia. A Índia possui um ambiente de negócios extremamente hostil ao capital internacional, com sua burocracia e complexidade, e com uma economia muito voltada a privilegiar empresas domésticas. Já a China, segunda maior economia global, está revertendo a sua abertura internacional, perseguindo empresas locais com ações cotadas em outros países, e ainda por cima se encontra em grande dificuldade para lidar com os casos de Covid. “Os estrangeiros estão doidos para aplicar no Brasil e ter boas razões para estarem aqui. Antes de tudo porque o chamado mundo emergente está prejudicado. E temos um grande mercado, com uma certa liquidez”, analisa o economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica. “Pode haver uma razoável entrada de dinheiro no Brasil, seja para coisas novas, como hidrogênio verde, ou para setores já existentes, como energia eólica e solar, seja para novas fábricas.”

OTIMISMO - Sede do Goldman Sachs, em Nova York: bancos internacionais estão mais atentos às oportunidades no país -
OTIMISMO - Sede do Goldman Sachs, em Nova York: bancos internacionais estão mais atentos às oportunidades no país – (Spencer Platt/AFP)

Nesse cenário, o Banco Central revisou para cima, em dezembro, a projeção do saldo do investimento direto no país (IDP), para 80 bilhões de dólares, em 2022. Isso significa 4,3% do PIB, um patamar além do observado no período pré-pandemia. “Diversos fatores podem estar favorecendo esses fluxos: a melhora da atividade econômica doméstica e da lucratividade das empresas; a retomada de projetos postergados devido à pandemia; e a demanda por investimentos em setores como energia, tecnologia e óleo e gás”, descreve o relatório. Para o próximo ano, o saldo deve ficar em 75 bilhões de dólares.

O melhor humor dos estrangeiros em relação ao Brasil pode ser percebido até nas análises de bancos para o mercado acionário brasileiro. Enquanto as instituições locais preveem baixa ou nenhuma valorização do Ibovespa para o próximo ano, por conta da situação fiscal do governo e das promessas de gastos feitas pelo PT, as internacionais Bank of America e JPMorgan projetam o índice de ações em, pelo menos, 130 000 pontos ao fim de 2023. Atualmente o Ibovespa está em torno dos 107 000 pontos. “O cenário global está mais definido, sem alteração no curto prazo. Então, o Brasil pode tirar vantagem disso se implementar rapidamente as políticas de gastos com controle fiscal. A perspectiva para o mercado de capitais é que volte a retomar a atividade e fazer as aberturas de capital no próximo ano, algo que não aconteceu em 2022”, defende Alexandre Pierantoni, chefe de finanças corporativas da consultoria de gestão de riscos Kroll.

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NOVA FRONTEIRA - Energia eólica em Sergipe: potencial entre investidores -
NOVA FRONTEIRA - Energia eólica em Sergipe: potencial entre investidores – (Luoman/Getty Images)

Os bons resultados, no entanto, não podem ser considerados dados. A entrada do capital estrangeiro na bolsa já passa dos 110 bilhões de reais no ano, mas o ritmo diminuiu desde as primeiras declarações sobre economia do presidente eleito Lula. “A bolsa brasileira está barata e isso chama atenção dos estrangeiros. Quando tem entrada forte de capital internacional, o número mensal gira em torno de 20 bilhões de reais. Em dezembro, já passou de 5 bilhões de reais. É positivo, mas podia ser muito mais”, analisa Carlos Sequeira, chefe da área de análise e pesquisas do BTG Pactual para a América Latina. O capital internacional tem poucos lugares atraentes para onde se direcionar no momento, e quer confiar no Brasil. A oportunidade está aberta, mas o governo precisa dar as garantias de ser confiável e responsável e assim aproveitar o momento. Infelizmente, essa não é a nossa tradição.

Publicado em VEJA de 4 de janeiro de 2023, edição nº 2822

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