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Brasil não terá grandes oportunidades na Líbia agora

Para o embaixador Paulo Cordeiro, subsecretário-geral do Itamaraty para África e Oriente Médio, governo provisório deve dar maior atenção a países que apoiaram rebeldes

Por Da Redação
12 nov 2011, 10h34

A queda do regime de Muamar Kadafi, seguida do falecimento do ditador, criou um novo cenário de incertezas na Líbia. Ao mesmo tempo em que o horror do conflito dissipa-se lentamente, ainda resta um país inteiro a ser reconstruído. Para o embaixador brasileiro Paulo Cordeiro, subsecretário-geral do Itamaraty para África e Oriente Médio, a retomada ocorre a passos lentos e, nesse movimento, o Brasil não deverá ter grandes oportunidades imediatamente – o que não significa que, em algum momento, elas não possam ressurgir. “Nós temos portfólio de obras por lá. Além disso, o banco ABC no Brasil é controlado por capital líbio. Em resumo, há partes muito interessadas para que a situação se normalize”, afirma. Na Líbia, quatro empresas brasileiras dividem-se entre obras de infraestrutura, saneamento e petróleo: Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Petrobras. Seus contratos com o estado líbio, no entanto, não possuem nenhuma garantia de continuidade com a entrada do novo governo provisório.

Qual é a situação das relações diplomáticas entre Brasil e Líbia hoje?

Se for possível utilizar um ditado, eu diria que é preciso ir “devagar com o andor porque o santo é de barro”. Ou seja, é preciso ir com muita calma.

Nada bem, então?

Não é isso. Quando o governo Kadafi caiu, fomos procurados pelo Conselho Nacional de Transição (CNT), encontramo-nos no Egito e depois nos Estados Unidos. Em seguida, a Líbia mandou uma missão ao Brasil, pouco antes de nosso embaixador no Cairo, Cesário Melantonio Neto, visitar a cidade de Bengazi. Em setembro, o chanceler Antonio Patriota reuniu-se com seu homólogo líbio em Nova York, o líder Mahmoud Jibril el-Warfally. Na ocasião, reconhecemos o CNT como autoridade dirigente da Líbia. Nós votamos a favor deles. Em termos diplomáticos, fizemos, portanto, uma transição segura. O próprio Patriota afirmou a Mahmoud que iria fazer uma visita à Líbia.

Há previsão para a visita?

Ainda não, mas eu fui à capital líbia no último dia 8. Visitei a autoridade monetária do país, conversei com membros da sociedade civil e senti como está o clima por lá. Na minha percepção, Trípoli é uma cidade que entra pouco a pouco em processo de auto-organização. O tráfego por lá estava melhor do que em Brasília às 18 horas; as lojas de vestidos de noivas estavam abertas; a Rua do Ouro estava movimentada; e as mercearias tinham frutas da estação. Claramente não havia problema de abastecimento. Dessa forma, minha avaliação é que a atividade comercial no país seja retomada o mais breve possível.

Há indícios mais firmes dessa possível retomada da economia local?

As coisas ainda estão muito incipientes. De qualquer forma, no meu voo para Trípoli pude verificar que havia muitas mães voltando com crianças para a Líbia. E você não volta com o seu filho a um lugar onde não há futuro. Encontrei o ministro líbio responsável pela pasta do petróleo, Shukri Ghanem, em um restaurante em Trípoli, conversando com investidores e empresários estrangeiros. Esses sinais já mostram um movimento otimista.

Como o Brasil pode participar disso, diante de todo o contexto diplomático entre os dois países?

As conversas estão avançando. Os líbios têm falta de mão de obra local; oferecemos ajuda para as obras de infraestrutura. Eles precisam de auxílio para cuidar dos feridos; as empresas brasileiras enviarão medicamentos. Além disso, nossa Coordenadoria de Combate à Fome tem uma interface com programas humanitários das Nações Unidas e, por meio deles, o Brasil deverá enviar 15 mil toneladas de arroz à Líbia. Por meio da Organização Mundial da Saúde (OMS), vamos enviar material hospitalar para o tratamento dos feridos. Além disso, o ministro Patriota deu indicações de que o Brasil poderia colaborar em um trabalho de desminagem, que é o desmonte de minas terrestres. Já temos bastante experiência nisso. Fizemos esse trabalho em Honduras, na Nicarágua, e temos uma missão que treina mil africanos no Benin com esse objetivo. A Andrade Gutierrez, por exemplo, liderou a desminagem em Angola. Então, por esse panorama, vê-se que o Brasil poderá ter um papel importante nesse momento.

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É possível que o país seja comercialmente prejudicado por não ter apoiado a coalizão?

Talvez não tenhamos, imediatamente, grandes novas oportunidades. Mas nós temos portfólio de obras por lá. Além disso, o banco ABC no Brasil é controlado por capital líbio. Ou seja, há partes muito interessadas para que a situação se normalize.

Mas o novo governo deu indícios de que irá beneficiar os países que apoiaram as revoltas.

Os membros do CNT, de fato, disseram que darão muitas coisas aos países que ajudaram na luta, mas não querem ser reféns de ninguém. Eles também afirmaram que irão rever todos os contratos da era Kadafi, pois acreditam que tenha havido corrupção. Nós temos portfólio de obras por lá. Além disso, o banco ABC no Brasil é controlado por capital líbio. Em resumo, há partes muito interessadas para que a situação se normalize.

Existe uma hostilidade clara em relação ao Brasil?

O Brasil tem certo “soft power“. Eles reconhecem que somos uma potência emergente, com qualidade e preços competitivos em certas áreas da construção. Não podemos esquecer que, acima de tudo, eles são comerciantes e querem o melhor negócio. Eu já conversei com líbios que moraram no Brasil e estão interessados em nossa capacidade de exportação de alimentos. Outros estão de olho na indústria de genéricos.

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