Bolsas caem mundo afora após frustrante alta de casos de Covid-19
Receio de novas ondas da doença, pessimismo do FMI e tarifas dos EUA à Europa impactaram o mercado
O mercado de ações sofreu fortes quedas nesta quarta-feira, 24, após o aumento no número de casos do novo coronavírus na Europa e nos Estados Unidos. O medo do surgimento de novas ondas da doença assustou investidores das principais bolsas internacionais e impactou significativamente o relatório do FMI divulgado na manhã de hoje, prevendo uma desaceleração no PIB global para 4,9% – o documento anterior, divulgado em abril, estimava uma queda de 3%. Estados americanos voltaram a ter um ritmo de contaminação acelerado e diversas regiões reforçaram medidas para conter o alastramento da doença. “Trabalhamos muito duro para baixar os índices de infecção e queremos mantê-los baixos”, disse Andrew Cuomo, governador de Nova York. Ele anunciou novas quarentenas para visitantes de estados com altos índices de infectados, contrariando governadores republicanos alinhados com o presidente Trump. Além de estados americanos, Tóquio registrou o maior número de casos desde que o Japão decretou estado de emergência. A Alemanha, por sua vez, que teve um bem-sucedido combate à doença, teve de retomar as medidas de isolamento social em duas cidades no oeste do país após um novo surto de Covid-19.
Nesse contexto, o S&P 500, índice composto pelos 500 mais fortes ativos das bolsas americanas, operava no final do dia em queda de 2,59%, a 3.050,33 pontos. Já o Ibovespa fechou em queda de 1,66%, a 94.377 pontos, impactado também com a queda das ações da Petrobras, que refletiram a decisão americana de aumentar os seus estoques de petróleo. O dólar comercial fechou em alta de 3,36%, a 5,3246 reais. A Euro Stoxx 50, índice composto por cinquenta ações da zona do euro, também foi impactada pelas novas ondas e sofreu sucessivas quedas. A cesta fechou em baixa de 3,11%, a 3.196,12 pontos, a menor taxa do dia. Além da coletiva do FMI, outro fator impactou nas ações europeias: a divulgação pela Bloomberg de que Robert Leighthizer, representante comercial dos Estados Unidos, teria a intenção de impor possíveis novas tarifas americanas de 3,1 bilhões de dólares em produtos como azeitonas, gim, caminhões, aeronaves, queijo, cerveja e iogurtes da França, Alemanha, Espanha e Reino Unido. A ação seria uma retaliação dos subsídios ilegais da União Europeia para favorecer a europeia Airbus SR. “As bolsas estavam se animando e se recuperando com o número de infecções controlado e o índice de atividade industrial e econômico na Europa melhor que o esperado”, diz Guilherme Giserman, estrategista internacional da XP. “Agora caíram principalmente porque o risco da segunda onda afetou os Estados Unidos, que afeta o mundo todo. A relação comercial entre Estados Unidos e Europa também contribuiu com a queda”, diz ele.
ASSINE VEJA
Clique e AssineAs guerras comerciais já se mostraram péssimas para a economia dos países que as disputam, mas analistas acreditam que a aproximação das eleições presidenciais nos EUA pode ter motivado a criação de novas taxas pelo governo Trump, uma vez que a sua postura protecionista agrada o seu eleitorado mais conservador. Em um momento de crise econômica aguda como a causada pela pandemia, no entanto, gerar mais um fator de estresse ao mercado por motivos eleitorais seria uma ação no mínimo inoportuna.