América Latina deve aproveitar seu relativo bom desempenho econômico para diversificar suas economias e ampliar suas reformas internas, de maneira a se prevenir de um possível contágio da crise dos países desenvolvidos, declarou nesta quinta-feira o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick.
“Um dos desafios que estamos discutindo com a América Latina é o de que eles possam garantir que suas reformas estruturais diversifiquem ainda mais suas economias”, afirmou Zoellick durante coletiva de imprensa.
A América Latina crescerá um “robusto” 4,5% este ano, e 4% em 2012, em um contexto mundial de grandes incertezas por conta dos problemas financeiros e de crescimento dos países avançados, disse esta semana o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“A boa notícia da América Latina é que houve uma revolução silenciosa na última década”, mediante políticas macroeconômicas e monetárias prudentes e taxas de câmbio flexíveis, disse Zoellick.
A demanda agrícola seguirá alta, disse Zoellick, mas as incertezas são maiores com relação aos minérios, que são alguns dos principais produtos de exportação da região.
Segundo Zoellick, esse cenário pode oferecer oportunidades, caso o setor de serviços incremente a produtividade, aumentando assim a resistência da economia, disse.
Contudo, ressaltou o presidente, a região é bastante diversa e a América Central, por exemplo, sofre outros tipos de desafios, como o narcotráfico e a insegurança.
Zoellick pediu ainda aos países avançados sejam valentes e implementem reformas condizentes com o nervosismo do mercado.
“Ninguém vai ficar imune a este tipo de turbulência. Queremos trabalhar com nossos sócios latino-americanos para que eles continuem beneficiando-se dos passos que foram tomados, mas creio que eles também estão preocupados pelos acontecimentos na Europa e Estados Unidos”, disse.
Ante a instabilidade econômica mundial, os países devem evitar tomar “decisões estúpidas” como o protecionismo comercial, pediu Zoellick.
A economia mundial enfrenta momentos perigosos, que requerem líderes valentes, advertiu.
“Não tomem decisões estúpidas, não deixem que o mundo caia no protecionismo, e (…) mantenham a concentração nos motores de crescimento de longo prazo”, pediu Zoellick aos líderes mundiais.
“O mundo entra em uma zona perigosa que necessita de líderes valentes”, insistiu.
O Bird e o FMI abriram nesta quinta-feira sua reunião em Washington em meio de uma crescente inquietação em relação aos indicadores econômicos na Europa e nos Estados Unidos, e por repetidos recuos nas bolsas mundiais.
“Creio que uma nova queda é improvável, mas a confiança do mercado tem sido corroída pelas constantes notícias ruins”, explicou Zoellick.
Para ele, as economias emergentes já começam a sentir os efeitos da crise mundial e estão menos preparadas para lidar com um eventual agravamento das questões que abalam a economia global, como a crise da dívida na Europa e a lentidão da recuperação da economia americana.
“Uma crise no mundo avançado poderá converter-se em uma crise para os países em desenvolvimento”, alerta.
Esses países, como os do Brics (Brasil, Rússia, China, África do Sul e Índia) – cujos ministros de Finanças se reúnem nesta quinta-feira em Washington – têm menos espaço fiscal que há três anos, quando instalou a crise financeira, explicou Zoellick.
“Em 2008 muitos disseram que não haveria turbulências. Os dirigentes não têm essa desculpa agora”, disse Zoellick.