Barragens do Nordeste atingiram menor nível em dez anos
Depois de um apagão ter deixado nove estados sem luz no final de agosto, a ONS cogita agora acionar termelétricas na região
As barragens das usinas hidrelétricas do Nordeste encerraram o mês de agosto no nível mais baixo dos últimos dez anos para o mês. Os reservatórios de Sobradinho e Três Marias, que respondem por quase todo o abastecimento da região, estão com apenas 36% da capacidade.
Preocupado em assegurar o abastecimento local, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, declarou, na terça-feira, durante um evento sobre energia no Rio, que pode solicitar na reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), marcada para esta quarta-feira, em Brasília, que sejam acionadas usinas térmicas do Nordeste. O encontro também discutirá as causas do apagão na região, na semana passada.
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Se a sugestão for feita e aceita, as térmicas voltam a operar dois meses após o mesmo comitê optar pelo desligamento. “A decisão lá atrás foi inacreditável: contrariou a lógica da segurança do abastecimento”, diz João Mello, presidente da consultoria Thymos Energia.
Na ocasião, foram desligadas térmicas a óleo e a diesel, mais caras. A medida aliviou os gastos do Tesouro Nacional, que banca o custo extra das térmicas. Mas, assim, o Nordeste passou a consumir mais energia do Sudeste, sobrecarregando a geração numa região onde os reservatórios também sofrem.
Nas usinas do Sudeste, consideradas o coração do abastecimento nacional, os reservatórios encerraram agosto com 55% da capacidade – o pior nível desde 2001, ano do racionamento. “É fundamental manter as térmicas”, diz Mello. “Caso contrário, o risco de racionamento, hoje concentrado no Nordeste, pode atingir outras regiões.”
Radar on-line: Reservatórios mais vazios
Segundo Marcelo Parodi, diretor da comercializadora Compass, a volta das térmicas mais caras tende a elevar os gastos extras com a geração e trazer de volta um problema: “Quem vai pagar a conta?”, pergunta. Pela regra anterior, até agosto, o custo era rateado por geradores, comercializadores e distribuidoras. “E como fica agora?”
Mais dinheiro – O Tesouro Nacional autorizou na terça mais uma emissão de 2,04 bilhões de reais de títulos em favor da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo setorial que cobre as despesas das distribuidoras com a energia produzida pelas usinas térmicas.
Em audiência no Senado, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, afirmou que o valor de repasse à CDE neste ano será “possivelmente menor que 9 bilhões de reais, mas será expressivo”.
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(com Estadão Conteúdo)