Ata: Corte de juros expõe racha interno do Fed e incerteza sobre rumo da economia americana
Dirigentes do banco central dos EUA veem sinais de estagnação na desinflação e temem que cortes prematuros prejudiquem a credibilidade

Quando o Federal Reserve (Fed) decidiu, em setembro, cortar os juros pela primeira vez desde o fim de 2024, a medida foi recebida como um gesto calculado de confiança: uma tentativa de calibrar a política monetária após meses de uma taxa alta para os padrões americanos. Mas a ata da reunião, divulgada nesta quarta-feira, 8, revela um quadro menos sereno, e um colegiado cada vez mais dividido sobre os próximos passos.
Os diretores do Fed, segundo o documento, reconhecem que o processo de desinflação “estagnou” em 2025. Apesar dos esforços para conter o avanço de preços, as leituras de inflação voltaram a subir nos últimos meses, desafiando a meta de 2% ao ano. “Alguns participantes alertaram que, se a inflação não retornar ao objetivo em tempo hábil, as expectativas de longo prazo podem se desancorar”, registra a ata – uma formulação que, no vocabulário do Fed, equivale a acender o sinal amarelo.
O dilema é familiar, mas sua intensidade cresceu. Ao mesmo tempo em que parte do colegiado teme que um afrouxamento excessivo reacenda pressões inflacionárias, outro grupo teme o oposto: manter juros altos por mais tempo do que o necessário pode “aumentar desnecessariamente o desemprego” e enfraquecer a atividade econômica.
A discussão sobre o ritmo de cortes reflete um impasse mais profundo. A autoridade monetária se vê presa entre as expectativas do mercado, que aposta em novas reduções já em outubro, e a preocupação de que agir cedo demais possa corroer a credibilidade conquistada a duras penas desde a crise pós-pandemia.
“Os riscos de alta para a inflação permanecem elevados, e os riscos de queda para o emprego aumentaram”, sintetiza o documento, em tom mais cauteloso do que o discurso público de alguns dirigentes nas últimas semanas.
A ata deixa claro que o colegiado está em compasso de espera. O Fed quer ver sinais mais concretos de enfraquecimento da inflação antes de avançar em um novo ciclo de cortes. E, embora o consenso de mercado indique mais uma redução em outubro, a retórica de cautela sugere que o banco central pode optar por segurar o passo, caso os indicadores de preços ccontinuem subindo.