Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

As preocupações do mercado após definição de novos nomes do BC

Com a diretoria renovada, as pressões do presidente da República sobre a política monetária talvez tenham mais efeito

Por Felipe Mendes Atualizado em 4 jun 2024, 10h09 - Publicado em 5 nov 2023, 08h00

A independência do Banco Central, uma conquista da sociedade brasileira sacramentada em fevereiro de 2021, estabelece que o presidente e os diretores da autarquia tenham mandatos fixos de quatro anos, que não coincidem com o exercício da Presidência da República. Por esse critério, o número 1 do BC, Roberto Campos Neto, só deixará o cargo em janeiro de 2025. As novas regras em vigor há dois anos também definiram que a troca dos diretores seja feita de forma gradual, para evitar que os governantes exerçam influência excessiva sobre os desígnios da instituição. Em 30 de outubro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou dois novos nomes para o BC: Paulo Picchetti assumirá a diretoria de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos e Rodrigo Texeira, a diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta.

Com a decisão, o atual governo passará a ter quatro nomes indicados de um total de oito que compõem o corpo diretivo do BC — em maio passado, Gabriel Galípolo foi anunciado como diretor de Política Monetária e Ailton Aquino dos Santos para a área de Fiscalização. Ainda que a independência do Banco Central esteja obviamente mantida, é inegável que o governo aumentou seu prestígio junto aos quadros que, afinal, determinam a política monetária. São os oito diretores, mais o voto do presidente Roberto Campos Neto, que definem se haverá ou não cortes da taxa básica de juros, a Selic. Antes do início do ciclo de redução dos juros, em agosto, Lula fez críticas injustas ao presidente do BC, acusando-o de ir em direção contrária ao que o Brasil precisa por não diminuir a Selic. Agora, com a nova diretoria, as pressões do presidente da República talvez tenham mais efeito.

.
MANDATO - Campos Neto: ele ficará na presidência do BC até o fim de 2024 (Rodrigo Sampaio/.)

O economista Tony Volpon, ex-­diretor do Banco Central e fundador do Instituto Makros, considerou a escolha de Picchetti positiva. “Foi uma surpresa boa”, diz. “Entre os indicados pelo governo até aqui, ele é o único que não me parece alinhado com a escola heterodoxa”. O pensamento heterodoxo, lembre-se, é aquele que preconiza a necessidade de intervenção do Estado nos rumos da economia, algo que o receituário petista prega desde sempre. De fato, a nomeação de Picchetti aliviou, em parte, as preocupações do mercado financeiro, que teme um Banco Central cúmplice da expansão fiscal defendida pelo presidente Lula. Um ex-presidente da autarquia pontua, sob a condição de anonimato, que o risco de ingerência do governo no BC existe, mas “ainda está cedo para quantificar”.

Não será fácil o trabalho dos executivos do Banco Central nos próximos meses, dadas as más ideias de Lula na gestão econômica do país. Na semana passada, o presidente mostrou que não tem o equilíbrio fiscal como uma prioridade. “Nós dificilmente chegaremos à meta de déficit zero, até porque eu não quero fazer cortes em investimentos e obras”, afirmou. “Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo um corte de bilhões nas obras.” Ou seja, o presidente quer ter licença para gastar, o que certamente pressionará a inflação — e exigirá do BC uma gestão monetária firme para não deixar a economia desandar. “Ficou claro o que todo mundo deveria saber: o presidente não tem nenhum comprometimento com as contas públicas”, diz o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central. Em 1º de novembro, o Comitê de Política Monetária do BC cortou a Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano. Mais uma vez, não houve surpresas. Isso é ótimo. Espera-se que, com a nova diretoria, o Banco Central siga conduzindo a política monetária do país com a sensatez que muitas vezes parece faltar em outras áreas.

Publicado em VEJA de 3 de novembro de 2023, edição nº 2866

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.