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Aplicação em renda fixa no exterior aumenta a segurança do investidor

Com mais instrumentos e facilidades, as aplicações nos Estados Unidos e em dólar oferecem boas oportunidades para o brasileiro proteger suas economias

Por Juliana Machado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Camila Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 jul 2024, 08h00

Dizer que a renda fixa proporciona retornos com uma boa margem de segurança é praticamente um lugar-comum quando se fala em investimentos. O que nem todos os investidores percebem, porém, é que isso não vale apenas para o Brasil, mas também para os Estados Unidos, onde os títulos vêm acompanhando uma taxa de juros que está nos maiores níveis em mais de duas décadas. Em outras palavras: investir na renda fixa da maior economia global representa, hoje, a possibilidade de ganhos relevantes com o menor risco do mundo — uma oportunidade que permanece viva mesmo com a perspectiva de mudança na política monetária americana.

No Brasil, a negociação de títulos de dívida indexados à Selic é a alternativa clássica para quem deseja capturar a boa rentabilidade que a taxa básica proporciona. Mas, mesmo sendo a alocação mais segura do país, ela não traz um ingrediente desejável em uma carteira de investimento: a diversificação geográfica. Por isso, faz sentido olhar para os Estados Unidos. Lá, com taxa básica de 5,25% a 5,50% ao ano, o ganho gerado pela renda fixa vem atraindo investidores em busca de refúgio em uma economia e uma moeda fortes. Segundo o Banco Central, em maio, investidores brasileiros aplicaram 2,2 bilhões de dólares em títulos americanos, entre dívida soberana e privada, emitida por empresas (bonds) ou por bancos (CDs, ou certificados de depósito). De janeiro a maio, o volume investido na renda fixa dos Estados Unidos por brasileiros chegou a 9,3 bilhões de dólares, ante 3,5 bilhões no mesmo período de 2023.

Jerome Powell, presidente do banco central americano: de olho na inflação
Jerome Powell, presidente do banco central americano: de olho na inflação (Celal Gunes/Anadolu/Getty Images)

“Os títulos do Tesouro americano são, em sua maioria, prefixados. Isso significa que o investidor tem a possibilidade de ‘travar’ a taxa em um nível raro”, afirma José Maria Silva, coordenador de inteligência e alocação da corretora Avenue. “Um estudo nosso mostrou que as taxas de juros americanas só ficaram acima de 4,5% ao ano em 1,5% das vezes nos últimos quinze anos.”

A diversificação geográfica pode até soar pouco importante, mas o grande risco de ignorar esse fator é enfrentar os solavancos da economia do Brasil sem uma “defesa” no portfólio. Ao adquirir um produto ligado à dívida dos Estados Unidos ou de empresas e bancos americanos de melhor qualidade, o investidor não está apenas colhendo os frutos da variação com ativos seguros, mas também terá a vantagem da exposição ao dólar, cujo movimento costuma ter correlação oposta com o de ativos brasileiros.

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O mercado de câmbio é altamente volátil e pode, portanto, representar um risco de desvalorização na carteira. Ainda assim, um claro exemplo dessa capacidade de proteção é o salto que o dólar deu em relação ao real nos últimos meses. Entre as explicações para o movimento, uma é externa: a perspectiva de manutenção de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos, mesmo com potenciais cortes à frente. Mas o outro componente é doméstico, com a maior descrença do mercado em relação ao compromisso fiscal do governo e ante as críticas duras tecidas pelo presidente Lula ao BC recentemente. Para ter uma ideia, no acumulado de 2024 até o dia 10 de julho, o dólar se valorizou 11,5% frente ao real, enquanto o Ibovespa acumulou perdas de 5,2%.

“O momento para ter uma renda fixa em dólar é favorável, mas, ao mesmo tempo, tentar acertar o cenário é sempre mais arriscado”, afirma Marc Forster, chefe da gestora Western Asset no Brasil. “O que essa guinada recente do câmbio mostra é que, independentemente do nível, não ter exposição internacional é uma coisa pouco inteligente.”

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Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos: política firme
Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos: política firme (Nathan Posner/Anadolu/Getty Images)

Para quem se pergunta se ainda é hora de ter posições em renda fixa americana, dois motivos atestam que há espaço para isso. O primeiro diz respeito ao portfólio estrutural, isto é, posições que são carregadas no longo prazo. Isso porque, mesmo com a perspectiva de redução dos juros americanos neste ano, as taxas ainda devem permanecer em níveis elevados, ao redor de 5% ao ano. Afinal, apesar do espaço para uma política monetária mais flexível, manter a inflação controlada continuará sendo o desafio do Federal Reserve, o banco central americano, conforme declarações recentes dadas pelo próprio presidente da instituição, Jerome Powell, e por Janet Yellen, secretária do Tesouro do país.

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O segundo ponto é o efeito conhecido como marcação a mercado: embora a redução do juro represente uma queda do rendimento dos títulos a ele atrelados, isso se traduz em ganhos para a carteira, já que os preços dos títulos sobem. “Ao entrar agora na renda fixa, o investidor tem seus títulos prefixados em uma taxa maior. Mas ele também ganha com a marcação a mercado, caso esteja olhando mais o curto e o médio prazos”, afirma Paula Zogbi, gerente de pesquisa e chefe de conteúdo da corretora Nomad.

Para o investidor que deseja ter títulos de renda fixa americana na carteira, um dos caminhos mais simples são os chamados exchange-traded funds (ETFs, na sigla em inglês), que replicam um indicador de mercado e são negociados em ambiente de bolsa de valores. Como estão listados na bolsa americana, o acesso é feito por meio de contas internacionais, solução oferecida por companhias como a Nomad, a Avenue e o banco C6. Nas duas últimas, também é possível realizar a compra direta dos títulos do governo dos Estados Unidos e de dívida de empresas e bancos, que entram na lista de alternativas ao investidor no caso das emissões com boa avaliação de crédito — os níveis chamados AA e AAA pelas agências de classificação de risco.

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Embora ainda pequeno no que diz respeito à renda fixa internacional, o mercado brasileiro vem evoluindo para oferecer produtos aos investidores que não desejam sair do Brasil: os BDRs de ETFs. São recibos negociados no mercado local cujo lastro está nas cotas do fundo listado lá fora. Esse é o caso, por exemplo, do iShares 20+ Year Treasury Bond, ETF que replica o retorno dos títulos americanos de vinte anos. Nas bolsas dos Estados Unidos, ele é negociado sob o código TLT e, no Brasil, pode ser adquirido via o BDR com código BTLT39 na B3. Vale destacar, porém, que o produto ainda é restrito a investidores qualificados (aqueles que têm mais de 1 milhão de reais em investimentos) e tem menor liquidez.

“As modalidades de investimento disponíveis aqui — ETFs, BDRs, fundos com gestão ativa, carteiras administradas — costumam ser bastantes simples, porque o investidor utiliza sua conta brasileira e, geralmente, o custo acaba sendo um pouco mais baixo”, afirma Larissa Marques Frias, planejadora financeira do C6. “Já ao investir diretamente no exterior, usando conta ou corretora internacional, a vantagem é o acesso a um leque amplo de opções, com uma estratégia muito mais direcionada.”

Dólares: a moeda mais uma vez funciona como porto seguro
Dólares: a moeda mais uma vez funciona como porto seguro (iStockphoto/Getty Images)
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Especialistas alertam que, na procura pelo melhor investimento internacional, o investidor deve ponderar principalmente qual é o seu perfil de risco. Isso porque o comportamento dos títulos tende a mudar a depender do seu prazo, com maior volatilidade tipicamente naqueles de maturação mais longa. É importante também analisar os custos associados a cada tipo de investimento, como corretagem, abertura de conta, envio de remessas e, claro, o preço dos títulos. Independentemente do produto escolhido, porém, uma coisa é certa: hoje, com mais opções e facilidades para fazer as operações de diversificação, vale a pena considerar a renda fixa internacional para não deixar mais dinheiro na mesa.

Publicado em VEJA, julho de 2024, edição VEJA Negócios nº 4

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