Apesar de melhora em rating, Brasil está longe de países desenvolvidos
Para economista da agência Moody's, o país ainda precisa apresentar um cenário fiscal mais estável para evoluir na classificação
A melhora do Brasil no ranking da agência de classificação de risco S&P Global Ratings divulgada na última quarta-feira, 14, tem sido comemorada por membros do governo, sobretudo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e será usada pela equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fazer coro pela redução da taxa de juros no país, hoje a 13,75% ao ano. Com a classificação “BB-“, agora, o Brasil passou a ocupar a 13ª classificação no ranking de pontuação da S&P, ainda em uma faixa de “grau especulativo”. O país também ocupa posição semelhante em ranking da agência Fitch Ratings, com nota de crédito “BB-“, e está ligeiramente mais bem posicionado no ranking da Moody’s, que rebaixou o país para o patamar “Ba2” em 2016, posição em que se encontra até hoje.
A melhora da classificação brasileira, no entanto, ainda está longe de ser algo relevante se comparada à posição de outros países, inclusive da América Latina. Na América do Sul, apenas a Bolívia, o Equador, a Argentina e a Venezuela encontram-se abaixo do Brasil. Embora somente o Chile tenha classificação nível “A” (S&P: A; Moody’s: A2; Fitch: A-), podendo acessar crédito de qualidade alta e com baixo risco, Peru, Uruguai, Colômbia e Paraguai, nessa ordem, estão mais bem classificados que o Brasil.
Em entrevista a VEJA, a economista Samar Maziad, vice-presidente e analista sênior da agência Moody’s, que melhor classifica o Brasil, disse que o país ainda tem um grau de investimento comprometido pela incerteza fiscal. Ela, no entanto, elogia as tentativas de promover uma reforma tributária e a discussão sobre a nova âncora fiscal. “Nós temos um resultado de classificação do Brasil de “Ba2 estável”. E temos mantido essa classificação desde 2016, mesmo com alguns eventos desafiadores nos últimos oito anos. A questão-chave para nós ainda está do lado fiscal. As dinâmicas de crescimento foram decepcionantes por muito tempo. Temos que ver o que acontece a partir de agora”, disse ela.
“O ponto central e o que continua sendo a principal fraqueza no perfil de crédito do Brasil está do lado fiscal. Há uma nova estrutura fiscal sendo discutida e apresentada neste momento. Mas ainda vai depender de obter algum histórico para sabermos a eficiência dessa regra e de outras reformas, como a tributária, que poderá simplificar o sistema tributário, melhorar a governança e a eficiência das empresas brasileiras. São pontos cruciais que estamos observando”, complementa Samar. “Manter o teto de gastos é um elemento importante dessa nova estrutura, além de limitar o crescimento da despesa a 2,5% do PIB em termos reais. As reformas estruturantes que aconteceram nos últimos anos, assim como o que agora se discute, são fatores importantes para impulsionar o crescimento no médio prazo.”
Em um ranking de países, o Brasil aparece abaixo das setenta principais nações do mundo. Países com pouco potencial ou com problemas conjunturais, como a Grécia, a Guatemala e o Vietnã, também aparecem acima do Brasil. A lista é liderada por países como Austrália, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Luxemburgo, Holanda e Suíça. Noruega, Suécia e a União Europeia, empatada com os Estados Unidos, completam o “top 10”.