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Alberto Ramos, do Goldman Sachs: Se Brasil não desacelerar vai crescer 4%

Diretor do Goldman Sachs lamenta que o Brasil cresça tradicionalmente pouco, fruto de pouco investimento e "capital humano limitado"

Por Pedro Gil Atualizado em 11 set 2023, 14h33 - Publicado em 11 set 2023, 11h30

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou expansão de 0,9%, em resultado trimestral divulgado na última semana. O resultado surpreendeu analistas, que estimavam um avanço bem mais tímido, de 0,2%, e deve motivar uma série de revisões nas estimativas para o crescimento da economia em 2023. Apesar da “boa surpresa”, como disse o presidente Roberto Campos Neto, o Brasil é um país marcado por oportunidades perdidas. De 2013 a 2022, o nosso PIB cresceu em média 0,75% ao ano. Sob qualquer ângulo, trata-se de desempenho vergonhoso, que representa uma afronta ao tremendo potencial brasileiro.

Nesta segunda-feira, 11, o Boletim Focus, publicação semanal do Banco Central (BC), revisou mais uma vez as perspectivas para o crescimento da economia brasileira em 2023. A previsão para o PIB foi elevada para 2,64%, um acréscimo de 0,08 ponto percentual em relação à semana passada, quando o mercado projetou alta de 2,56%. Para Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman Sachs para a América Latina, que revisou o crescimento do país para 3,25% ao fim de 2023, o crescimento deve desacelerar no segundo semestre. Não fosse por isso, segundo ele, o Brasil cresceria cerca de 4%. “As famílias estão endividadas, com uma política monetária restritiva e cenário externo em desaceleração”, disse. 

O resultado do PIB no 2º trimestre  surpreendeu? O que surpreendeu positivamente foi a menor queda do que a esperada na agropecuária. Esperava-se um payback, com contração de 6 a 8%. Quem sabe não veremos esse movimento nas próximas leituras. 

No início do ano, mercado falava em crescimento de 0,8%, mas já estamos caminhando para romper a barreira dos 3%. O que aconteceu? Toda essa narrativa que se criou, inclusive durante a campanha, não se realizou. A economia está vibrante. O mercado de trabalho está próximo dos níveis de neutralidade, com crescimento forte do emprego. Talvez tenhamos subestimado o impacto do estímulo fiscal dos últimos meses do governo Jair Bolsonaro e dos primeiros meses do governo Lula. O Bolsa Família triplicou. O número de pessoas que recebem o benefício aumentou significativamente. Houve também uma mudança comportamental do consumidor, gerada pela pandemia, uma espécie de demanda represada. Ou seja, mesmo com a passagem aérea, que duplicou, hotel mais caro, automóvel mais caro, as pessoas estão gastando. “Que seja, vou gastar mesmo, o futuro é muito incerto”, pensam. As pessoas estão mais impulsivas. 

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O que podemos esperar para os próximos meses? Nada dura para sempre. Essa fortaleza do PIB… Não existe muita capacidade ociosa na economia. Vamos entrar em um período de vacas magras nos próximos semestres. PIB vai fazer uma dieta grande no fim deste ano. As famílias estão endividadas, com uma política monetária restritiva e cenário externo em desaceleração. Mas se o Brasil não desacelerar, como sugere a conjuntura, cresce 4% ao fim do ano. 

Por que o mercado tem errado sistematicamente as previsões de PIB? Se a gente soubesse porque está errando não teríamos errado. Não sei. Talvez tenhamos subestimado esse efeito residual de abertura da economia e o impacto da super safra no agronegócio. Pode ser também que tenhamos subestimado o impacto do estímulo fiscal. Os números têm surpreendido por todo lado, inclusive nos EUA. Talvez ainda a taxa de juros neutra seja bem mais alta do que se imagina no Brasil. Além disso, a pandemia gerou um choque violento nas séries e isso gerou ruídos nos filtros sazonais. Temos uma dificuldade técnica inerente. É sempre mais difícil prever quando as coisas estão a evoluir com solavancos. 

Historicamente, o Brasil tem ensaiado voos de galinha. Como crescer de forma sustentável? A resposta é fácil: o crescimento sustentável só se dará pelas reformas estruturais pendentes a 10 anos. É preciso reduzir o peso do estado, a carga tributária é enorme. É um país incrivelmente fechado ao comércio internacional. O Mercosul tem um grau de ineficiência elevado. E o Brasil investe pouco: os níveis de capital humano são limitados. A educação tem aumentado, o que não tem aumentado mesmo são as habilidades. Há uma dissonância com países asiáticos. Investimento é processo de acumulação de capital. Não há crescimento sem isso. E isso tem sido tradicionalmente baixo.

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