Agro, a ‘menina dos olhos’ de Bolsonaro, segue frustrando o PIB
A agropecuária recuou 0,9% no primeiro trimestre do ano; em comparação ao desempenho do mesmo período de 2021, a queda do setor é de 8%
A agropecuária é o principal setor exportador do país e uma das principais locomotivas da economia, alcançando mais de 27% de participação no PIB brasileiro. Em 2020, período crítico da pandemia, o setor saiu ileso aos efeitos da crise sanitária com safras recordes, sendo o principal responsável pelo superávit da balança comercial, mas desde o segundo trimestre do ano passado a “menina dos olhos” do presidente Jair Bolsonaro vem decepcionando.
A agropecuária recuou 0,9% no primeiro trimestre do ano, frustrando a expectativa de crescimento de 1%. O mercado tinha a esperança de que o setor pudesse salvar o PIB de 2022 com a retomada da importação de carne pela China e dos altos preços das commodities na balança comercial. Em comparação ao desempenho do mesmo período de 2021, a queda do setor é de 8%. “O setor sofreu com problemas de quebra de safra de plantios importantes, como soja e arroz”, avalia Gustavo Sung, analista-chefe na Suno Research, sobre o resultado ruim.
Segundo Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, já era esperado que os fatores climáticos atrapalhassem o crescimento do setor, mas o impacto acabou sendo maior do que o esperado. Na avaliação de Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, os fatores climáticos provocaram a alta dos preços e derrubaram a atividade para um território negativo, mas isso deve ser revertido nos próximos meses. “Com os preços de commodities em patamares recordes, acredito que a atividade agropecuária vai ser destaque ao longo dos próximos meses”, diz.
Mas a previsão do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) não é tão positiva. O Cepea estima uma queda de 4% a 6% no PIB do agro, no cenário mais pessimista, e um avanço de 5%, no melhor cenário. As perspectivas estão calcadas nas consequências climáticas que prejudicaram as safras e colheitas, nos efeitos da guerra no Leste Europeu e no cenário inflacionário, que encarece a produção para o produtor e encolhe a renda da população, afetando a demanda. “No mercado interno, a demanda deverá seguir relativamente fraca em consonância com o crescimento muito baixo esperado para 2022”, avalia o Cepea em relatório.
O Ministério da Economia comemorou o resultado do PIB do primeiro trimestre, que registrou crescimento de 1%, mas também demonstrou preocupação com os impactos da guerra entre Ucrânia e Rússia, que está prestes a completar 100 dias, e com os efeitos da pandemia, que acabou gerando gargalos nas cadeias de suprimento e inflação.