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A verdinha que brilha

A Stone, empresa brasileira de pagamentos, faz uma abertura de capital bilionária na bolsa de Nova York e põe em risco hegemonia das maquininhas dos bancos

Por Bianca Alvarenga Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h37 - Publicado em 26 out 2018, 07h00
arte-raio-x-stone
(Arte/VEJA)

A vigilância dos concorrentes levou a brasileira Stone, uma das empresas de pagamentos que surgiram para rivalizar com a Cielo (do Banco do Brasil e do Bradesco) e a Rede (do Itaú), a sempre zelar por um perfil discreto. Em um mercado dominado por Golias, várias pequenas competidoras queriam ser o Davi. Para não ser esmagada pelos gigantes antes mesmo de tentar derrotá-­los, cada uma adotou uma estratégia diferente. A Stone optou por baixar a cabeça e trabalhar em silêncio. Seus controladores e executivos não costumam conceder entrevistas e os números relativos à empresa ficavam guardados a sete chaves. Somente o essencial era divulgado, como determinam as autoridades financeiras. A estratégia não é mais possível. Na quinta-feira 25, a Stone atraiu olhos de todo o mundo ao abrir o capital na bolsa de Nova York em uma operação estimada em 1,2 bilhão de dólares. É uma das grandes captações de recursos em bolsa feitas por empresa brasileira nos EUA.

No prospecto enviado às autoridades americanas, a Stone precisou abrir a caixa-preta e dar dimensões mais claras de sua relevância. Ela está avaliada em cerca de 7 bilhões de dólares (mais de 20 bilhões de reais) e é responsável por 5% do valor transacionado na indústria brasileira de cartões de crédito e débito. Parece pouco, mas é uma pedra e tanto no sapato dos grandes concorrentes (veja o quadro ao lado). Sem fazer alarde, a empresa abocanhou uma fatia cada vez maior do mercado. Poucos anos atrás, Cielo e Rede dominavam quase 90% do setor de pagamentos por cartão. A concentração derivava dos acordos de exclusividade que a Cielo tinha com a Visa, e a Rede, com a Mastercard. Isso significa que somente as duas maquininhas estavam aptas a receber os cartões com as bandeiras de maior circulação nacional. Em 2010, o Banco Central quebrou o duopólio e determinou que as bandeiras deveriam ser aceitas por qualquer empresa de pagamentos. Foi nessa época que outro grande banco resolveu entrar na briga. O Santander é o dono da Getnet, que também cresce em ritmo acelerado. Desde então Cielo e Rede estão perdendo participação de mercado, a despeito de tentativas de preservar sua parte no bolo.

O barulho em torno da venda de ações da Stone cresceu quando a Ant Financial, a fintech mais valiosa do mundo, filhote do gigante chinês Alibaba, demonstrou interesse em comprar 100 milhões de dólares em papéis da empresa brasileira. Warren Buffett, dono da gestora Berkshire Hathaway, também apostou no futuro das maquininhas verdes. O megainvestidor americano é sócio dos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, do fundo 3G, na empresa alimentícia Kraft Heinz. Sicupira acompanhava de perto a trajetória de um dos fundadores da Stone, André Street, de 34 anos. O jovem carioca sempre foi tido como um prodígio: ele já havia criado e vendido três pequenas empresas que atuavam no setor de pagamentos. Por ser amigo da família de Street, bisneto do empresário têxtil Jorge Street, um dos fundadores da Fiesp, Sicupira se interessou pelo passo seguinte do jovem empreendedor. Quando André Street e o sócio Eduardo Pontes tiraram a Stone do papel, conseguiram o apoio do fundo 3G, dos bancos BTG e Pan e de gestoras como a Madrone, pertencente à família dona do Walmart.

André Street
PRODÍGIO – André Street, de 34 anos: a Stone já é seu quarto negócio de sucesso (Daryan Dornelles/VEJA)
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Na abertura de capital, menos de 20% das ações da Stone foram ofertadas, o que significa que Street e os fundadores continuarão no controle da empresa. Nem isso foi capaz de diminuir o interesse dos novos investidores, o que revela uma aposta no crescimento da Stone e do próprio mercado brasileiro. “O setor de pagamentos está se expandindo rapidamente, e a competição é crescente. Os investidores estrangeiros avaliam o potencial de desenvolvimento a longo prazo”, diz Boanerges Ramos Freire, sócio da consultoria de varejo financeiro Boanerges & Cia. Ele cita o sucesso da operação de abertura de capital da ­PagSeguro, empresa de pagamentos que comercializa a máquina de cartão “Moderninha”. No início do ano, a ­PagSeguro levantou 2,3 bilhões de dólares na bolsa de Nova York. O entusiasmo com o potencial da empresa fez com que, em setembro, ela alcançasse um valor de mercado superior ao da Cielo, cuja participação no segmento é cerca de quinze vezes maior. A animação dos investidores estrangeiros foi a principal razão para a Stone escolher os EUA como local para a oferta das ações.

A bolsa de valores brasileira passou os últimos meses em compasso de espera, sem grandes movimentações, por causa da incerteza eleitoral. As dúvidas quanto à candidatura do ex-­presidente Lula e a falta de um líder claro nas pesquisas até meados de agosto afugentaram investidores, o que levou muitas empresas a adiar os planos de operações mais incisivas na bolsa. Agora, com o otimismo do mercado em relação à possível vitória de Jair Bolsonaro, os empresários estão retomando os planos. O banco BMG e a empresa de tecnologia Tivit planejam abrir o capital até o fim deste ano.

Publicado em VEJA de 31 de outubro de 2018, edição nº 2606

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