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A perda de poder dos EUA ao ficar fora do maior acordo comercial do mundo

Sob o protecionismo de Trump, o bloco asiático se fortaleceu em uma nova configuração que Biden dificilmente conseguirá reverter

Por Luisa Purchio Atualizado em 17 nov 2020, 17h54 - Publicado em 17 nov 2020, 08h46

O presidente americano Donald Trump está em seu quarto e último ano como presidente nos Estados Unidos e, nesse meio tempo levantou barreiras tão altas que dificilmente serão derrubadas – mesmo que o próximo chefe da Casa Branca queira. O tratado de livre comércio entre países asiáticos assinado na segunda-feira, 16, é fruto do que em 2018 Trump não quis endossar. Chamada de Parceria Transpacífico (TPP), a ideia que foi assinada em 2015 pelo governo do presidente Obama e do vice Joe Biden, e outros 15 países, foi extinta quando o republicano assinou uma ordem executiva retirando os EUA do acordo. A medida foi um balde de água fria no TPP, que se tornou CPTPP e caminhou sozinho com os 11 países restantes. Ao ser assinada por Obama, ele já prenunciou: “Sem este acordo, os concorrentes que não compartilham nossos valores, como a China, decretarão as regras da economia mundial”. Cinco anos depois, isso ocorreu. Um outro tratado, o “Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, na sigla em inglês)” foi assinado, incluindo a China. Ao mesmo tempo que representa uma perda de poder para os Estados Unidos, é uma vitória diplomática e tanto para a China, além de ter impacto no comércio global de todo mundo.

Com o tratado, há estreitamento de relações entre China, a Austrália, o Japão, a Coreia e a Nova Zelândia com os membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), da qual fazem parte Tailândia, Filipinas, Malásia, Singapura, Indonésia, Brunei, Vietnã, Mianmar, Laos e Camboja. Juntos os 15 países somam 30% do PIB global e 30% da população mundial. Hoje a China já possui grande relevância no comércio internacional e o país que investiu acertadamente em tecnologia e produção industrial ganha potencial para crescer ainda mais. A parceria que não foi para frente, no entanto, germinou sem os Estados Unidos e simbolicamente nasceu logo após a derrota do republicano Trump para o democrata Joe Biden. Mesmo que Biden queira costurar novamente o acordo e recolocar os Estados Unidos, há grandes chances de não conseguir.

O mundo mudou e a entrada dos Estados Unidos terá de ser negociada novamente no Congresso, que provavelmente terá dificuldades com uma maioria republicana entre os senadores. “Isso deixa os Estados Unidos de fora de uma área importante e coloca a China em posição privilegiada em relação a ela. Esses países da Ásia estão crescendo a 6% ao ano, é uma região importante em termos de crescimento econômico”, diz Alexandre Uehara, coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Negócios Internacionais da ESPM. “A China é a grande beneficiada de tudo isso porque ela tem a maior capacidade manufatureira da região. Importa peças, componentes e matérias prima a preços baixos e exporta produtos com valor agregado”, diz Gilmar Masiero, coordenador do Programa de Estudos Asiáticos da USP. “Com a participação da Coreia e do Japão, eles estão mandando um recado para os norte-americanos de que, se eles não os ajudarem, a China o fará”, diz ele.

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Para o Brasil, o RCEP pode ter impactos a longo prazo. O pais exporta minério de ferro principalmente para o Japão e a China, enquanto a Austrália, que também produz o item e que se beneficiará com a possível futura redução de taxas, pode virar uma competidora importante e tomar esse espaço. O mesmo pode ocorrer com a exportação de carne de frango brasileira, que pode perder competitividade para a Tailândia. Além disso, a curta distância física dos países do RCEP traz competitividade entre os membros do acordo. Por outro lado, o Brasil pode aumentar a sua exportação de soja para países do bloco que vão precisar aumentar a sua produção de aves para vender para a China.

 

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