A percepção do mercado sobre juros após a última alta da Selic
Analistas mantiveram a projeção de 13,75% para a taxa básica de juros neste ano mesmo com a sinalização do BC que ainda há espaço para mais ajuste
O Banco Central deixou aberta a porta para mais um ajuste na taxa básica de juros, a Selic, recentemente elevada em meio ponto, para 13,75%, a 12ª alta consecutiva do ciclo contracionista para conter a inflação. Apesar do recado claro no comunicado, o mercado financeiro vê que o espaço para esse ajuste adicional possa ter acabado. Segundo as projeções compiladas pelo próprio BC e divulgadas no Boletim Focus nesta segunda-feira, 8, os analistas projetam que a Selic encerre o ano a 13,75%. No próximo ano, a projeção é da taxa um pouco menor, mas ainda em dois dígitos, em 11%, também a mesma projeção da semana passada, antes do anúncio feito pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
A visão sobre a manutenção do patamar de juros vem de encontro com a trajetória da inflação para este ano. O mercado estima desaceleração nos preços, vindo na esteira dos últimos resultados da inflação e da diminuição do preço dos combustíveis, como mostra reportagem de VEJA desta semana. Os analistas projetam o IPCA deste ano a 7,11%, sexta semana consecutiva de revisão para baixo. Para o próximo ano, no entanto, a estimativa continua a acelerar: foi de 5,33% na semana passada para 5,36% nesta semana, sinalizando mais um ano de estouro na meta de inflação.
É justamente pela pressão inflacionária para o próximo ano, alinhada ao risco fiscal como a prorrogação do bônus do Auxílio Brasil, que o Copom fala em possibilidade de mais um ajuste adicional. Além desse risco, medidas tomadas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) para conter a inflação durante 2022, ano que o presidente disputa a reeleição, podem ter reflexo no próximo ano. Isso pode ser visto nas projeções dos preços administrados, como combustíveis, plano de saúde, medicamentos e impostos. Se, para este ano, a projeção é de uma deflação de 0,92% nesses preços, para o próximo ano é de inflação de 7,1%. Segundo André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas, 25% da inflação vem dos preços administrados e essa projeção alta ajuda a explicar o porquê a meta do ano que vem pode não ser cumprida.