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A máquina bilionária de exames chamada Dasa

Grupo de medicina diagnóstica, o maior da América Latina, vive de adquirir e transformar laboratórios que sempre foram negócio de médicos

Por Ana Clara Costa
11 abr 2011, 09h19

Ao fazer exames de saúde em uma unidade do laboratório Delboni Auriemo ou do Lavoisier, em São Paulo, ou no Lâmina e Sérgio Franco, no Rio de Janeiro, poucos imaginam que são clientes da mesma empresa: a Diagnósticos da América (Dasa). Como não faz propaganda de sua identidade corporativa, ela é desconhecida por boa parte das pessoas, diferentemente das 24 marcas de laboratório que possui. Seu gigantismo não para por aí: o grupo de medicina diagnóstica é o maior na América Latina e o quarto do mundo, com um faturamento de 1,9 bilhão de reais em 2010. A expectativa da Dasa é de realizar nada menos que 170 milhões de exames neste ano. “Em 2012 devemos chegar a 190 milhões de exames, ou um por habitante no Brasil”, afirma Marcelo Noll Barboza, presidente da empresa desde setembro de 2008. (Veja quadro)

Apesar da enorme quantidade de exames, a participação da Diagnóstico da América no mercado brasileiro de análises clínicas é de ‘apenas’ 11%. São realizados no país cerca de dois bilhões de exames anualmente em um setor bastante pulverizado, com centenas de pequenos laboratórios regionais. Gigantes mesmo são apenas dois: além da Dasa, há o Grupo Fleury, com quem disputa ferozmente.

Para não ficar para trás, tais empresas têm de investir constantemente em tecnologia, equipamentos de ponta e logística. É preciso ainda partir para as aquisições, que proporcionam crescimento bem mais rápido do que o orgânico. Não é exagero dizer que hoje este é setor que mais depende de compras de empresas para ganhar mercado. “Atualmente, nosso foco de expansão são os laboratórios médicos com faturamento inferior a 100 milhões de reais”, afirma Barboza, deixando transparecer que o período de compras está longe do fim.

Máquina de aquisições – Na última década, a Diagnósticos comprou 24 marcas e acumula 359 unidades em treze estados (veja quadro); enquanto o Fleury vem logo atrás com 16 marcas e 140 unidades, após de 25 aquisições em sete estados. A despeito do grande número de compras de ambos, as opções do Dasa de preservar os nomes originais dos laboratórios e de não fazer marketing de sua própria identidade fazem com que o grande público não a conheça de fato. Já seu concorrente direto possui uma marca corporativa, a Fleury Medicina e Saúde, que é bem reconhecida por paulistas e fluminenses e brasilienses. Segundo o presidente da Dasa, este quadro pode mudar. Há um estudo em andamento para averiguar a necessidade de uma marca única que englobe todos os valores da empresa e vincule os clientes a ela. “Mas isso ainda está em fase inicial”, diz Barboza.

A Dasa em números
A Dasa em números (VEJA)
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Para se ter ideia do assédio que os gigantes da medicina diagnóstica promovem sobre os menores, há uma anedota célebre no setor que envolve o laboratório paulistano Salomão e Zoppi. Em 2007, seus donos, os médicos Luis Salomão e Paulo Zoppi, chegaram a receber um cheque em branco de um grande comprador para vender suas operações. “A abertura de capital dessas empresas permitiu que conseguissem recursos para aumentar a velocidade das aquisições e ganhar mercado. Hoje, são gigantes. Mas está ficando cada vez mais difícil comprar”, afirma Zoppi. A venda, no entanto, não está em seus planos. “Somos médicos e não uma empresa financeira. E não nos vemos fazendo outra coisa senão trabalhar com isso”, afirma.

Outro grande laboratório do setor que desperta a cobiça da Dasa e do Fleury é o Hermes Pardini, o mais tradicional da Grande Belo Horizonte. Especializado no segmento de ‘apoio’ – que realiza análises para outros laboratórios e hospitais, numa espécie de terceirização -, o Pardini é atrativo não só pela moderna estrutura construída na Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves (nova sede do governo de Minas Gerais), mas também por ter participação relevante no mercado mineiro – ainda pouco explorado pelos dois gigantes de São Paulo. “No curto prazo, o Pardini não deve fechar nenhum negócio. Mas, até o final deste ano, há grandes chances de que a empresa termine comprada por outra”, afirma uma fonte do setor ouvida pelo site de VEJA.

Custos da integração – Ser o maior, como no caso da Dasa, também envolve percalços. A companhia passou por um duro processo de integração entre 2009 e 2010 para conseguir aproveitar, ao máximo, as qualidades dos laboratórios adquiridos, explorar sua complementaridade, reduzir custos e harmonizar as culturas gerenciais de cada uma. No processo, dez dos 20 diretores foram substituídos. O organograma mudou por completo, resultando na criação de novas diretorias e na adoção de processos mais modernos.

Tudo isso ocorreu meses após a eclosão de problemas internos que acabaram tirando da empresa seu próprio fundador, o médico e empresário Caio Auriemo, que era presidente do conselho da companhia. Outra saída envolta em polêmica foi a do fundo de private equity Pátria, que reduziu a zero sua participação na Dasa em 2009. Em dezembro, no entanto, a empresa de investimentos retornou ao setor por meio da criação da Companhia de Investimentos em Serviços Diagnósticos. O objetivo é que nova empresa dê início a uma nova onda de aquisições no ramo. A primeira delas já ocorreu: os laboratórios Axial, em Belo Horizonte.

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O fator Amil – A última investida da Dasa – e que ampliou ainda mais sua distância em relação ao Fleury – foi a entrada em seu capital de Edson Godoy Bueno, dono da Amil. Em uma negociação de troca de ações ocorrida em setembro, a Dasa abocanhou o MD1, divisão laboratorial de Bueno. Já o novo bilionário brasileiro, estreante na lista da Forbes deste ano, ficou com 26,3% da Dasa.

No início do ano, a Amil firmou contrato com a Dasa para terceirizar todas as análises clínicas feitas em São Paulo (em suas unidades próprias de diagnóstico, como a Focus e a Total, além dos hospitais da rede, como o Paulistano). O contrato tem validade de 15 anos e permitirá à empresa de Bueno uma economia de cerca de 7 milhões de reais ao ano, resultado de um desconto de 10% nos exames contratados da Dasa.

Segundo Barboza, da Dasa, as negociações com a Amil “continuarão como sempre foram, ou seja, sem nenhum tipo de benefício pelo fato de terem um acionista em comum”. No entanto, há um temor no mercado de que as duas empresas, agora atuando juntas, possam enfraquecer a competição no setor, principalmente no ramo laboratorial – em que ganhos de escala somados à grande estrutura de análise poderiam fazer com que a Dasa praticasse valores muito abaixo da concorrência. “No setor de medicina diagnóstica, o importante é escala. Sem isso não há como competir”, afirma o analista Iago Whately, da Fator Corretora.

Não há como negar que a chegada da Amil amplia a escala da Dasa em um mercado em franca consolidação. E poderá lhe dar ainda mais fôlego na busca por aquisições. O maior trunfo, no entanto, pode se transformar em calcanhar de Aquiles. “Há um risco de a concorrência se posicionar contra esse movimento”, afirma Whately. Nesse caso, o Fleury, como principal concorrente, tem um aliado e tanto: seu controlador, o Bradesco. Contra esse gigante, talvez a batalha não seja tão fácil.

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