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A hora da diversificação: Mercado de ETFs avança no Brasil

Com diversos atributos, como a possibilidade de comprar uma cesta de papéis que formam um índice de referência, os ETFs atraem investidores

Por Juliana Machado, Camila Barros 28 jun 2024, 06h00

Diversificados, acessíveis e baratos. Esses são alguns dos principais motivos para os ETFs — sigla em inglês para exchange-traded funds, ou fundos negociados em bolsa — caírem no gosto dos investidores brasileiros. Há uma década, o volume médio diário desses ativos negociado na B3, a bolsa de valores de São Paulo, estava na casa dos 600 000 reais. Atualmente, a cifra movimentada pelos 341 produtos disponíveis no mercado brasileiro alcançou a expressiva marca de 1,4 bilhão de reais por dia — e tudo indica que a expansão continuará em ritmo forte nos próximos anos.

De forma simplificada, os ETFs são fundos que replicam o desempenho de índices, como o Ibovespa, principal indicador da B3 e que é composto pelas ações das maiores e mais negociadas empresas da bolsa. Por apenas replicar o desempenho de um indicador de mercado, o ETF é chamado de fundo passivo e permite que um investidor tenha acesso, de uma única vez, a um amplo número de papéis. Ele se diferencia dos fundos tradicionais, caracterizados pela gestão ativa — ou seja, constituem uma seleção de papéis com o objetivo de superar o desempenho de um índice de mercado. Além disso, os fundos tradicionais têm um funcionamento particular: não são negociados na bolsa de valores. Portanto, o investidor deve pedir o resgate de recursos do fundo para que suas cotas sejam convertidas em dinheiro. No caso do ETF, a negociação ocorre como uma ação, com cotas negociadas em ambiente de bolsa e que apenas trocam de mão na compra e na venda.

Sede do BC: a política monetária interfere no desempenho dos fundos
Sede do BC: a política monetária interfere no desempenho dos fundos (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

O principal vetor para a estruturação de novos produtos e o aumento da demanda é um antigo conhecido dos investidores: os juros. Os cortes da taxa Selic no Brasil pelo Banco Central entre o fim do segundo governo Dilma Rousseff, em 2016, e a pandemia, em 2020, motivaram investidores de diversos tipos a buscar maior potencial de remuneração em ativos mais arriscados, como é o caso das ações na bolsa de valores. A consequência só poderia ser uma: mais pessoas com mais fundos passivos na carteira — cerca de 10% dos investidores de bolsa hoje têm pelo menos um ETF. “Olhando em retrospectiva, trata-se de um crescimento importante para um ecossistema que não tem cultura de investir via bolsa”, afirma Renato Eid, superintendente de estratégias indexadas e investimento responsável da Itaú Asset. “Mas ainda há muito a ser feito quando olhamos o tamanho do nosso mercado.”

Os números atestam o espaço de crescimento que o mercado de ETFs ainda tem pela frente. Segundo Thalita Forne, superintendente de produtos listados da B3, os ETFs representam por volta de 7% do volume negociado de ações na bolsa no Brasil. Para ter uma ideia do que isso significa, os ETFs representam em média 30% do volume médio diário negociado no segmento de ações nos Estados Unidos. Em patrimônio líquido, enquanto o Brasil tem pouco mais de 40 bilhões de reais em ETFs, nos Estados Unidos o montante sobe para 7 trilhões de dólares. “Entendemos que a expansão ganhará força à medida que as pessoas forem conhecendo melhor o produto e entendendo seus benefícios, além dos aspectos macroeconômicos”, diz Forne.

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Na competição pelo dinheiro dos investidores, os ETFs até podem coexistir com os fundos de gestão ativa, mas sua expansão dependerá essencialmente da evolução do próprio mercado de capitais. Na visão de Laércio Henrique, sócio do BTG Pactual e chefe de renda variável na BTG Pactual Asset Management, faltam ativos para “empacotar” novos ETFs, já que o mercado brasileiro tem menos profundidade na comparação com outros mercados globais. “O desafio é termos mais IPOs (ofertas de ações), com empresas se mostrando rentáveis e perenes para que o próprio mercado de ETFs evolua”, diz Laércio.

arte ETFs

Além de permitir ao investidor estar exposto a diversos papéis de uma vez só, os ETFs são vantajosos pelo seu baixo custo no geral, que dificilmente ultrapassa 1% ao ano de taxa de administração e sem cobrança de taxa de performance. Nos fundos com estratégia ativa, a taxa de administração costuma ficar perto dos 2% ao ano, com 20% de taxa de performance, cobrada sobre aquilo que o fundo supera em relação ao índice de referência. Além disso, os ETFs, por serem negociados como ações, oferecem a liquidação da operação em dois dias. Nos fundos ativos, o mais comum é o chamado D+30, ou seja, após o pedido de resgate a conversão das cotas em dinheiro ocorre em trinta dias. Esse funcionamento existe para preservar a capacidade do gestor de fazer frente a eventuais resgates do fundo sem prejudicar sua estratégia, mas é visto por alguns investidores como algo bastante restritivo.

Vale a pena: para diretor do Nubank, a transparência do produto é uma vantagem
Vale a pena: para diretor do Nubank, a transparência do produto é uma vantagem (Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images)

Há mais vantagens inerentes aos ETFs. “Além do custo e da liquidez, outro ponto positivo é a transparência”, afirma Andrés Kikuchi, diretor de investimentos da Nu Asset Management, gestora ligada ao Nubank. “Como o ETF segue um índice, há clareza sobre o que está sendo comprado. Na estratégia de buscar alfa (excesso de retorno em relação a um índice), muitas vezes o gestor de um fundo tradicional não revela o portfólio e leva mais de sessenta dias para que o investidor consiga acessar o que está sendo feito.”

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arte ETFs

Como nem só de vantagens se faz um mercado, os ETFs também têm alguns aspectos que podem ser vistos como menos atraentes. O mais relevante é a tributação. No caso dos fundos de renda variável, a alíquota é de 15% sobre o lucro no momento da venda, mas quem deve fazer o recolhimento do imposto é o próprio investidor, por meio do cálculo e do pagamento do Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf). Nos fundos ativos, sem cotas negociadas em bolsa, o investidor conta com a comodidade do recolhimento direto na fonte — um mecanismo que, no segmento de fundos passivos, só foi replicado pelos ETFs de renda fixa, ligados a ativos precificados pela inflação, por exemplo.

Pioneirismo: o primeiro ETF do mercado brasileiro foi lançado pelo Itaú há vinte anos
Pioneirismo: o primeiro ETF do mercado brasileiro foi lançado pelo Itaú há vinte anos (Eduardo Anizelli/Folhapress/.)

Além disso, como o ETF apenas reproduz o desempenho de um índice, não é possível selecionar os ativos aos quais o investidor estará exposto, o que pode significar, muitas vezes, ter na carteira papéis de pior qualidade ou com um nível de concentração mais elevado, como ocorre nos próprios índices — Petrobras, Vale e os bancos representam, sozinhos, cerca de 40% do Ibovespa, por exemplo. Isso reforça a necessidade de o próprio investidor selecionar e combinar mais de um ETF se quiser aproveitar a capacidade de diversificação que ele oferece. “Temos concentração em vários aspectos, mas não é muito diferente do que acontece lá fora”, afirma Gustavo Lendimuth, chefe da área de produtos de investimentos do Santander. “No Brasil, a maioria dos recursos está em produtos ligados ao Ibovespa, assim como lá fora vemos com o S&P 500.” Seja como for, o crescimento de ETFs é um termômetro da maturidade não apenas do mercado de capitais do país, mas também da economia brasileira.

Publicado em VEJA, junho de 2024, edição VEJA Negócios nº 3

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