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A banalização dos protestos dos caminhoneiros

Caminhoneiros e motoristas de aplicativos manifestaram apoio a Jair Bolsonaro; presidente não concorda com medidas impostas por João Doria em São Paulo

Por Felipe Mendes Atualizado em 11 Maio 2020, 19h50 - Publicado em 11 Maio 2020, 19h22

Dezenas de caminhoneiros e motoristas de aplicativos móveis decidiram parar importantes rodovias e avenidas de São Paulo nesta segunda-feira, 11. O objetivo da manifestação, sem liderança declarada, era criticar a extensão das medidas de isolamento no estado de São Paulo — método adotado pelo governador João Doria (PSDB) para evitar o contágio pelo novo coronavírus (Covid-19) na região —, além de demonstrar apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defende o isolamento vertical, somente de idosos e pessoas com comorbidades. Em 8 de maio, o governo paulista prorrogou a quarentena estadual até o dia 31, quando poderá, inclusive, tomar medidas mais severas para evitar a propagação da enfermidade.

A afronta, embora incipiente e de pequenas proporções, acende um sinal de alerta perigoso: uma nova revolta de parte dos caminhoneiros. O pior é a banalização do uso de um instrumento que trouxe benefícios inequívocos a uma categoria, mas ao custo do crescimento do país, que foi abortado em 2018. “Uma paralisação nacional neste momento de pandemia seria muito prejudicial para a categoria”, diz Wallace Landim, o Chorão, um dos líderes que emergiram nos protestos de dois anos atrás. “Existe um movimento político por trás da manifestação em São Paulo.”

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Segundo um cálculo da Fundação Getulio Vargas, a FGV, o peso do transporte rodoviário de carga é estimado em torno de 1,4 ponto percentual do Produto Interno Bruto brasileiro, mas o impacto do setor na economia chega próximo a 29%, porque o modal permite que haja interligação entre os mercados produtores. Insensíveis ao tamanho do estrago que uma paralisação poderia causar ao país neste momento, alguns caminhoneiros buscam demonstrar apoio ao presidente da República, Jair Bolsonaro, que tem demonstrado insatisfação com o fechamento do comércio em diversas regiões do país. Esse grupo, em sua controversa opinião, acredita que as medidas impostas pelos governadores para arrefecer o contágio pela enfermidade é inócua e trará consequências graves para o desempenho da economia brasileira.

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Com as portas do comércio fechadas em diversas regiões no país, os caminhoneiros veem o fluxo de cargas diminuir. Alguns reclamam, inclusive, de não conseguirem se alimentar, pois muitos restaurantes à beira das estradas suspenderam suas atividades. Mesmo assim, uma paralisação a nível nacional, como há dois anos, não passa pelas cabeças pensantes dos que puxaram aquela greve. O problema é que, como a categoria não possui uma coordenação central, grupos de WhatsApp disseminam informações sobre protestos e muitos acabam aderindo mesmo assim. Mesmo que sejam poucos, qualquer dezena de caminhões atravessados em uma rodovia ou avenida é capaz de gerar o caos num centro urbano como São Paulo. “Não tem como parar neste momento. Essa manifestação é contra o governo do João Doria e vem de parte dos caminhoneiros, mas também de motoristas de aplicativos e de vans”, diz Aldacir Cadore, líder de um grupo de caminhoneiros autônomos em Brasília.

 

Em 30 de abril, a Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) — entidade comandada por Chorão — endereçou ao Ministério da Infraestrutura, gerida por Tarcísio Gomes de Freitas, um pedido para a suspensão temporária do gatilho do diesel. O instrumento está regulamentado na tabela do frete e ordena uma revisão de tabela quando a oscilação no preço do combustível supera 10% para mais ou para menos. No documento, a associação recomenda manter a faixa de preços cobradas do combustível antes da pandemia para o cálculo da tabela. “Há necessidade de evitar a queda abrupta do valor de frete mínimo a ser pago aos caminhoneiros autônomos uma vez que, apesar da oscilação para baixo dos preços dos combustíveis, observamos um aumento considerável no preço dos insumos que compõe o preço do transporte de cargas”, diz a Abrava, em documento. Apesar disso, Landim descarta qualquer greve à nível nacional no momento. “Estamos mapeando para saber quem está à frente dessa manifestação em São Paulo. Não estamos envolvidos em pautas políticas”, disse.

O manifesto desta segunda-feira se iniciou ainda pela manhã e foi tomando espaço, até que chegou à Avenida Paulista, por volta das 15h30. Um adereço ganhou destaque: um caixão de 2 metros de altura com uma foto de João Doria ao lado do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, os principais nomes da manifestação. Além disso, vários veículos portavam adesivos com a mensagem “Fora Doria”. Durante entrevista coletiva, no início da tarde, o governador de São Paulo disse que não é contra as manifestações, mas declarou que não aceita o fechamento de vias por parte dos caminhoneiros. Destaca-se que São Paulo é o estado com maior número de vítimas fatais pela pandemia do coronavírus. Já são mais de 3.700 mortos na região. Por isso, segundo o governador, as medidas restritivas se fazem necessárias. A desorganização no movimento mostra que os protestos por parte dos caminhoneiros já virou banal.

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