0,25 ou 0,5 ponto de corte? Copom anuncia hoje a decisão sobre os juros
Com mudança no cenário externo e interno desde o último encontro, mercado não tem aposta certa para a reunião e aguarda comunicado
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncia nesta quarta-feira, 8, a decisão sobre a taxa de juros. E, desta vez, não há uma aposta certa do mercado sobre o que será feito. Os analistas estimam mais um corte na Selic. Parte do mercado vê a possibilidade de mais uma redução de 0,5 ponto percentual. No entanto, há outra parte que aposta em uma queda de 0,25 ponto.
A dúvida sobre o ritmo de cortes indica uma mudança no cenário desde a última reunião. Em março, a ata do colegiado sinalizou mais uma redução de 0,5 ponto, porém ponderou que a incerteza poderia levar a um ritmo mais lento de distensão monetária, isto é, corte dos juros. Hoje, a taxa está em 10,75% ao ano.
De março para cá, o cenário ficou ainda mais incerto: não se veem cortes de juros nos Estados Unidos pelo menos em curto prazo e o câmbio se depreciou. Além disso, a continuidade de conflitos geopolíticos mantém investidores em modo de fuga do risco, preferindo refúgio em ativos seguros – o que pressiona moedas e mercados emergentes. No cenário interno, há dúvidas sobre o comportamento da inflação de curto prazo devido aos efeitos da tragédia no Rio Grande do Sul e ao efeito de médio e longo prazo com o afrouxamento da política fiscal. Em abril, o governo Lula anunciou a alteração das metas de resultado primário para os próximos anos. O último dado disponível de inflação, a prévia de abril, ficou em 3,77% no acumulado em 12 meses. O percentual está acima do centro da meta, de 3%, mas dentro da margem de tolerância, que vai até 4,5%.
“Consideramos essa reunião do Copom como uma das mais difíceis dos últimos anos, havendo bons argumentos tanto para um corte de 50 bps quanto de 25 bps”, afirma Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da gestora Warren Investimentos. A gestora aposta em uma redução de 0,5 ponto devido ao comportamento da inflação de março e à prévia de abril, que vieram abaixo da expectativa. Goldenstein afirma que, apesar de manter o ritmo do corte, um tom de desaceleração pode ser adotado pelo colegiado. “O ideal seria sinalizar uma desaceleração para 25 bps na reunião de junho, sob o argumento de que, à medida que se chega ao estágio final do ciclo de queda de juros, requer-se maior cautela, e parcimônia, na condução da política monetária”, afirmou.
A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) coloca suas fichas em uma redução de 0,25 ponto. Segundo Fernando Honorato, coordenador do Grupo Consultivo Macroeconômico da entidade, as incertezas em relação à política monetária americana devem ter um grande peso nesta reunião. “Elevamos o ponto terminal da Selic principalmente porque as incertezas que já existiam sobre os juros americanos se intensificaram com o resultado dos indicadores. A resiliência da inflação e da atividade econômica nos EUA, sobretudo no mercado de trabalho, postergou a expectativa de início da redução da taxa por lá para o final do ano”, disse.