Fernando Haddad, continua perseguindo o deficit zero. O ministro afirmou que o resultado fiscal do país “não depende do desejo do presidente da República” nem “vem da cabeça do ministro”, e sim de uma parceria entre os Poderes. Está certo, claro: o Poder Executivo propõe, o Poder Legislativo discute, altera (ou não) e aprova. Todo mundo é responsável.
O problema é que a frase, hoje, é estapafúrdia: como não existe proposta (a que havia foi dinamitada pelo chefe do próprio Executivo), não há “parceria” possível. O ministro vir pedir ajuda ao Congresso quando não consegue a ajuda nem do chefe tampouco faz sentido.
Arthur Lira também defende o deficit zero. “O ministro Haddad tem que conseguir continuar buscando alternativas para o deficit zero”, afirmou o presidente da Câmara. “Nosso foco é continuar trabalhando incansavelmente para atingir [a meta]. E, se não conseguir mesmo, tem as consequências do arcabouço que serão aplicadas.” Está certo, claro: o rombo é grande, a dívida é enorme, o juro é estratosférico — é obrigação dos Poderes trabalharem para zerar o rombo.
O problema é que Lira é Lira. O chefão do orçamento secreto nunca teve interesse por gastar pouco ou bem, muito pelo contrário. O que ele está dizendo é que o Congresso não vai tirar a batata quente do fogo para Lula. Se o presidente precisa elevar a meta, que mande mensagem dizendo isso.
A menção “às consequências” soa falsa e ameaçadora: se o Congresso aprovar a meta zero, o governo terá que contigenciar despesas, o que Lula não quer fazer, especialmente em ano de eleição. Por outro lado, claro que o Congresso vai aprovar qualquer aumento na meta que o governo peça (o Centrão tem apetite naturalmente insaciável e todos os parlamentares têm interesse na eleição). Ou seja, descartar a meta zero é bom para todo mundo — exceto para o Brasil e Haddad, naturalmente.
Lula, de sua parte, segue na sinuca de bico em que colocou a si mesmo: se mandar a mensagem elevando a meta, enfraquece seu ministro mais importante; se voltar atrás e restabelecer a meta zero, enfraquece a si mesmo. Em qualquer das hipóteses, seu governo sai mais fraco.
(Por Ricardo Rangel, em 06/11/2023)