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Flávio Rocha deixa o Brasil 200 e avisa: ‘Pendurei as chuteiras’

Ele diz que o grupo, sob o comando do sobrinho, 'virou movimento político' e deixou de fazer sentido: 'Nós, os cabelos brancos, estamos passando a bola'

Por Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 Maio 2020, 16h46 - Publicado em 5 Maio 2020, 15h33

“Pendurei as minhas chuteiras num poste de 30 metros de altura onde eu não consiga nunca mais alcançá-las”. As palavras são do empresário Flávio Rocha, presidente do Grupo Guararapes, controladora da Riachuelo, e um dos fundadores do Instituto Brasil 200, o principal reduto do bolsonarismo no meio empresarial, que agora anuncia sua saída oficial do grupo presidido por seu sobrinho, Gabriel Kanner. Leia o que diz Kanner sobre a saída do tio.

Rocha se identifica com a “velha guarda” do movimento, e admite abertamente que tomou a decisão de deixar o grupo por discordar da linha adotada pelo sobrinho.

“A ideia do Brasil 200 era funcionar como um think tank, um laboratório de ideias nessa linha liberal na economia e conservadora nos costumes. Existia um vazio na política angustiante”, diz Rocha ao Radar. “Mas eu acho que, quiseram as circunstâncias, a nova geração vindo aí, a coisa entrou mais no debate político cotidiano, que não faz sentido nenhum, não é conciliável com a direção de uma grande empresa”, complementa.

Para o empresário, o Brasil 200 fez sentido enquanto colocou o debate de ideias de alto nível acima do fla-flu diário da política que tomou conta da pauta do país. Era esse limite que mantinha o movimento em harmonia com os negócios, afinal, como ensina Rocha, a nenhum grande líder de companhia de capital aberto, com acionistas de todas as correntes de pensamento, é dado o luxo de envolver-se em querelas políticas.

“Não dá para ser CEO de empresa e, por rotina, se posicionar politicamente, principalmente num quadro tão cheio de paixões”, diz Rocha, para quem, o Brasil 200 está hoje “próximo de movimento político”.

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O empresário deixa o grupo, mas não pretende fazer de sua decisão um ponto de conflito com o sobrinho. Prefere tratar o momento, de aparente implosão do Brasil 200, com a debandada dos grandes empresários do grupo, como uma “transição” entre a experiência “dos cabelos brancos” e o vigor impulsivo da “segunda geração”. Não deixa de ser uma crítica suave ao sobrinho, que meteu-se em disputas políticas ao tomar posição sobre guerra entre Jair Bolsonaro e Sergio Moro.

“Estou saindo em comum acordo, porque tem uma geração mais identificada com a política no movimento. A gente está saindo para dar mais liberdade a essa segunda geração. Nós, com os nossos cabelos brancos, que estamos ativos nas empresas, estamos passando a bola”, diz.

Questionado se a decisão não poderia desapontar o sobrinho, que fica no barco, Rocha diz confiar na capacidade de Kanner: “Sou presidente de uma empresa de capital aberto. Ele vai entender”.

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Nesta terça, o Estadão mostrou como o Brasil 200, sob o comando de Gabriel Kanner, começou a enfrentar uma onda de debandadas de empresários do movimento. Pesos-pesados do empresariado, como Edgard Corona (Bio Ritmo), João Appolinário (Polishop), Sebastião Bomfim (Centauro), Washington Cinel (Gocil) e Alberto Saraiva (Habib’s) manifestaram intenção de deixar o grupo, insatisfeitos com os mesmos motivos que levaram Rocha a “pendurar as chuteiras”.

Ao tomar conhecimento da saída do tio, Gabriel Kanner disse ao Radar que respeita a decisão, mas avisou que não mudará sua condução à frente do grupo, que não pode ser chapa-branca e deve se permitir fazer críticas construtivas ao governo. “Conversei com o Flávio mais cedo. Respeito sua decisão. Ele tem uma posição de destaque na empresa”, diz Kanner.

 

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