Trump ameaça reinado do Ozempic nos Estados Unidos
Presidente afirma que medicamento vai custar US$ 150 por caixa, uma redução significativa e que pode ameaçar a sustentabilidade financeira da empresa

As ações da Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e símbolo da nova era dos medicamentos para perda de peso, despencaram nesta sexta-feira, 17, após o presidente americano Donald Trump prometer cortar o preço do fármaco no mercado doméstico. Em Copenhague, os papéis chegaram a cair mais de 5%.
Na véspera, em coletiva na Casa Branca, Trump afirmou que o preço do Ozempic “ficará muito mais barato” quando o governo concluir as negociações com a farmacêutica dinamarquesa, e que o custo poderia cair para cerca de US$ 150 por caixa. O comentário foi suficiente para acender os alertas em Wall Street sobre a possibilidade de uma ofensiva mais ampla contra os preços de medicamentos de uso crônico.
O presidente costuma citar o Reino Unido e o Canadá como exemplos de sistemas em que o mesmo medicamento custa uma fração do valor cobrado nos Estados Unidos: remédios de marca chegam a custar duas a três vezes mais no mercado americano do que na Europa, segundo dados da RAND Corporation.
Essa diferença decorre principalmente do modelo de regulação. Enquanto nos EUA os preços são definidos por negociações privadas entre farmacêuticas e seguradoras, na Europa os governos negociam coletivamente e só aprovam medicamentos que comprovem boa relação entre custo e benefício. Em muitos países, os preços ainda são controlados ou referenciados a valores regionais, o que limita aumentos.
Desde o início do ano, a companhia reduziu pela metade o preço do Ozempic para pacientes sem cobertura, fixando-o em US$ 499, uma tentativa de conter críticas e ampliar o alcance do medicamento. O presidente americano não tem poder direto para fixar preços de medicamentos, mas pode pressionar empresas ou autorizar o governo a negociar valores em programas públicos como o Medicare, algo que Biden já começou a implementar em 2023.
Ainda assim, o valor continua distante do que Trump propõe, e dificilmente um preço mais baixo conseguirá ser sustentável sem comprometer margens de lucro e investimentos em pesquisa da companhia.