Lula não é de esquerda e fará governo pragmático, diz Delfim Netto
Ao Radar Econômico, ex-ministro afirma que “o governo Bolsonaro acabou” e que inflação é gravíssima para desejos eleitorais do presidente
Aos 93 anos, o ex-ministro Antonio Delfim Netto preocupa-se com o futuro. Conselheiro histórico de governos, o economista aponta que o principal problema do país envolve a falta de sentido. “O Brasil não sabe onde está, tampouco para onde quer ir”, diz ele ao Radar Econômico. Segundo ele, os péssimos resultados do governo de Jair Bolsonaro irão formar a convicção de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será eleito.
“O governo Bolsonaro acabou. Lula é um homem pragmático. Fez um bom governo porque as situações externas eram boas. Lula não tem nada de esquerda e vai fazer um governo tão pragmático quanto o primeiro”, afirma ele. “Vai assumir um país destroçado. O Lula sempre foi respeitador da ordem financeira, nunca houve nenhum exagero do ponto de vista fiscal.”
Segundo Delfim, o gravíssimo problema da inflação tem impacto direto para a eleição do ano que vem. “O Banco Central vai ter que elevar os juros e derrubar o nível de atividade, e as perspectivas do governo Bolsonaro já não são as melhores. Essa inflação concentrada nos combustíveis tem importância devastadora, principalmente entre os caminhoneiros. Há um desalento porque a situação é muito difícil”, diz. Ele afirma que uma das soluções para o aumento da produtividade passa por uma reforma administrativa ampla. “Era preciso uma boa reforma administrativa para pôr ordem no país. O que se gasta com classes privilegiadas que detêm o poder é absurdo. Algumas castas aproveitam-se do excedente. É necessário uma mudança administrativa bruta. O governo tem que enfrentar a si mesmo.”