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Professor de Finanças do Insper. Fatos, dados e histórias do mundo do dinheiro
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Por que vale ler a ata do Copom

A comunicação das decisões do BC tem como objetivo demonstrar a importância da dinâmica da Selic e os impactos na vida das empresas e das pessoas

Por Ricardo Humberto Rocha
Atualizado em 24 out 2024, 12h36 - Publicado em 24 out 2024, 12h36

Em 18 de setembro de 2024, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) publicou um comunicado do qual destaco este trecho: “Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.”

A ata com mais detalhes e reflexões foi publicada no dia 24 de setembro, e faço uma sugestão ao leitor de que considere pelo menos uma rápida leitura,

Ler a ata do Comitê de Política Monetária pode ser fundamental para brasileiros entenderem as decisões econômicas do país, especialmente em relação à taxa de juros, que impacta diretamente a economia e as finanças pessoais. A ata traz um resumo das discussões do Banco Central sobre a economia e as razões que levam o Copom a tomar decisões, como alterar a taxa Selic.

O Copom foi criado tendo como inspiração o Fomc, o comitê de política monetária dos Estados Unidos, que também publica suas decisões. Para os apaixonados pelo tema, faço a sugestão de leitura do recente e excelente artigo publicado The Effects of the Federal Reserve Chair’s Testimony on Treasury Interest Rates, dos pesquisadores do Fed (o banco central americano) de Cleveland, Matthew V. Gordon e Kurt G. Lunsford.

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Entender essas razões permite que brasileiros ajustem suas finanças, desde a tomada de empréstimos até investimentos, já que a Selic influencia diretamente o custo do crédito e a rentabilidade de aplicações financeiras. Além disso, a ata também sinaliza possíveis ajustes futuros, o que é útil para quem está acompanhando o mercado ou planejando investimentos.

A leitura e a reflexão sobre o conteúdo técnico da ata do Comitê de Política Monetária são maneiras de acompanhar de perto as expectativas do Banco Central para a economia brasileira, ajudando indivíduos e empresas a tomar melhores decisões. A comunicação do Copom é uma prática importante para brasileiros que desejam entender as decisões econômicas que influenciam diretamente o mercado e o dia a dia das finanças pessoais. A ata traz uma análise detalhada sobre as condições econômicas do país e as razões que levam o Banco Central a ajustar ou manter a taxa Selic, que impacta várias áreas da economia, como crédito, investimentos, inflação e crescimento.

O documento explica os motivos das decisões tomadas pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central após cada reunião. Esse comitê define a taxa Selic, que é a principal taxa de juros da economia brasileira. A Selic influencia o custo do crédito, como empréstimos e financiamentos, e a rentabilidade de investimentos, como títulos públicos e outros produtos financeiros atrelados a essa taxa. Quando o Copom decide aumentar ou reduzir a Selic, ele está sinalizando como o Banco Central enxerga o cenário econômico e quais são suas expectativas para o futuro.

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Nos últimos 25 anos atuando como professor de finanças, frequentemente o público me pergunta: o que é melhor, títulos prefixados ou indexados à inflação? O momento é bom para investimentos na Bolsa? E o dólar? Compro meu imóvel ou continuo morando de aluguel e guardando meu salário? Decisões de investimento pessoal levam em conta diversas variáveis, além do perfil de risco e capacidade de resistir a perda de cada investidor, como entender o cenário político local, a geopolítica internacional e a economia americana, entre outras coisas.

Ao ler a ata, o público pode compreender melhor todos esses fatores, porque o Comitê já os analisou detalhadamente. Não quero, com isso, que você, leitor de VEJA e VEJA NEGÓCIOS, concorde integralmente e esqueça a frase “toda unanimidade é burra” do extraordinário escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues. Ele a utilizava para expressar a ideia de que o pensamento unânime pode ser superficial ou limitado, sugerindo que, quando todos concordam sem questionamento, pode faltar reflexão crítica.

Com o teor da comunicação do Bacen, pelo contrário, desejo que utilize seu pensamento crítico e tire suas próprias conclusões. O que posso afirmar é que o Comitê fez uma ampla avaliação técnica de todos os fatores que comentei, como inflação, câmbio, crescimento econômico e até mesmo o contexto internacional. Além disso, a ata serve como uma ferramenta de comunicação entre o Banco Central e os agentes econômicos, ajudando a alinhar as expectativas do mercado. Com isso, a leitura da ata permite que investidores, empresários e consumidores se preparem melhor para as mudanças econômicas que virão.

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Impactos diretos nas finanças pessoais

Decisões de política monetária, como a alteração da Selic, têm efeitos diretos na vida financeira dos brasileiros. Por exemplo, um aumento na Selic encarece o crédito, elevando as taxas de juros em financiamentos de imóveis, automóveis e até mesmo no cartão de crédito. Por outro lado, quando a Selic cai, o crédito se torna mais barato, o que pode incentivar o consumo e o investimento. Além disso, a taxa Selic impacta diretamente a rentabilidade de investimentos, especialmente aqueles vinculados à renda fixa, como o Tesouro Direto.

Portanto, ao acompanhar as atas do Copom, é possível se antecipar a esses movimentos e fazer ajustes financeiros. Por exemplo, se a ata sugere que a Selic pode cair no futuro, um investidor pode reavaliar suas posições em renda fixa, buscando diversificar seu portfólio com ativos de maior risco, como ações, para obter melhor rentabilidade. Da mesma forma, quem está considerando tomar um empréstimo pode esperar um momento mais oportuno, quando as taxas de juros estiverem mais baixas.

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A chamada “desancoragem” de expectativas de inflação ocorre quando os agentes econômicos — como empresas, consumidores e o mercado financeiro — começam a duvidar da capacidade do Banco Central de manter a inflação dentro da meta. Isso pode levar a um aumento da inflação, pois empresas ajustam seus preços em antecipação a uma inflação mais alta, e os trabalhadores pedem aumentos salariais para compensar a perda de poder de compra.

No contexto da política monetária internacional, o Copom precisa balancear suas decisões para evitar que o Brasil perca competitividade, ao mesmo tempo que protege a economia doméstica de choques externos. O acompanhamento dessas discussões na ata permite que empresários e investidores tenham uma visão mais clara sobre os possíveis efeitos das políticas externas na economia brasileira.

Prezado leitor, como você pode usar a ata do Copom no apoio ao seu planejamento financeiro?

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Veja algumas formas de utilizar a ata no seu planejamento:

  1. Investimentos em renda fixa: Se a ata indicar que a Selic vai continuar caindo, pode ser interessante antecipar a compra de títulos públicos ou privados, aproveitando as taxas mais altas antes da redução. Por outro lado, se houver indicações de alta da Selic, pode valer a pena esperar para obter melhores retornos no futuro.
  2. Financiamentos: Quem planeja financiar um imóvel ou um automóvel deve observar as perspectivas de juros na ata. Se o Copom sugerir que os juros vão subir, pode ser melhor antecipar o financiamento antes que as taxas aumentem. Se a tendência for de queda, vale a pena aguardar.
  3. Previsão de inflação: A ata também traz projeções sobre o índice de preços ao consumidor, o que ajuda a planejar o poder de compra futuro. Isso pode influenciar decisões sobre grandes compras ou até mesmo na negociação de contratos de longo prazo, como aluguel.
  4. Diversificação de portfólio: Para investidores com apetite por risco, a ata pode sinalizar momentos oportunos para diversificar seus investimentos, saindo da renda fixa para ativos de maior risco, como ações, especialmente se a economia estiver aquecida e a expectativa de crescimento for positiva.

A leitura da ata do Copom permite que os brasileiros tenham uma visão mais clara das tendências econômicas e dos motivos por trás das decisões do Banco Central. Com essa informação, é possível tomar decisões financeiras mais bem fundamentadas, tanto no campo dos investimentos quanto no consumo e no planejamento de crédito. Além disso, o entendimento da política monetária ajuda a proteger o patrimônio contra os riscos de alta inflação e juros elevados, e permite que o público esteja mais preparado para mudanças no cenário econômico.

Portanto, acompanhar o que o Comitê Política Monetária comunica é uma prática que pode beneficiar não apenas investidores e empresários, mas também consumidores em geral, proporcionando maior segurança e planejamento nas decisões financeiras. A ata é uma ferramenta de transparência e previsibilidade, permitindo que todos possam ajustar suas expectativas e estratégias financeiras de acordo com as perspectivas econômicas do Banco Central.

O presidente do Bacen tem à sua frente dois pedestais de cristal, um com um raríssimo gato siamês e outro com um peixinho de colecionador. Ele está toda hora olhando os dois, para que não eles não caiam do pedestal e muito menos o gato coma o peixe.

O gato representa a inflação e o peixe, a taxa de câmbio. E a taxa de juros é o mais poderoso instrumento monetário para evitar esses acidentes. Como diz um amigo que conheço há quase 40 anos, antes de começar um bom dia, é melhor olhar a curva de juros.

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