Roberto Campos Neto: pra onde ele vai, afinal?
Com convites para virar CEO de bancos e gestoras, atual presidente do BC pode criar um negócio próprio e fora do País
A Faria Lima, centro financeiro do país, está em plena temporada de apostas sobre o que Roberto Campos Neto fará depois de deixar a presidência do Banco Central, a partir de janeiro. Convites para assumir cargos de CEO não faltam: grandes bancos de varejo, instituições de investimento e gestoras de ativos de diversos portes já o sondaram. Campos Neto, que publicamente tem dito que não será político nem aceitará outro cargo público, discute as possibilidades apenas com amigos próximos.
Pelo que a coluna apurou, porém, neste momento o plano mais forte é de engrenar um projeto próprio. Ou seja, em vez de virar executivo ele pode se tornar o mais novo banqueiro do setor, por meio da abertura de uma fintech. E seu escritório não teria endereço nem na Faria Lima nem no Leblon, no Rio, mas provavelmente em Miami, nos Estados Unidos.
Fascinado por tecnologia e inovação, Campos Neto deixará um legado incontestável à frente do BC brasileiro. Desde março de 2019, ele liderou uma série de inovações, com destaque para o Pix – que, desde seu lançamento, em novembro de 2020, desbancou o reinado de outras formas de transferências de valores. Para 2025, o Banco Central planeja expandir ainda mais o sistema, incluindo a possibilidade de pagamentos parcelados e o lançamento do Real Digital (Dix), a moeda digital do País.
Claro que não é só isso. A condução da política monetária nestes últimos anos (Campos Neto assumiu o posto em fevereiro de 2019, indicado por Jair Bolsonaro) também tem merecido o aplauso de gente graúda no mercado e mesmo de economistas de base da esquerda. Não foram tempos fáceis, e a administração da taxa de juros vai continuar exigindo um jogo de cintura grande enquanto o governo mantiver uma política fiscal expansionista e a dívida pública não mostrar uma inflexão de rumo. A taxa básica de juros está hoje em 10,75%, e as previsões são de que possa fechar o ano ao redor de 12%.
Mas por que uma fintech em Miami? O que a coluna ouviu foi que, enquanto o Brasil oferece um mercado em expansão com oportunidades de inclusão financeira, Miami sai ganhando com um ambiente inovador (um hub crescente para tecnologia e inovação) e com acesso a capital. Nos últimos anos, Miami virou também um porto seguro para muitos endinheirados brasileiros, com milhões investidos na compra de imóveis. Em tese, um público-alvo por excelência. Depois de deixar o BC, ele ainda terá de cumprir um período de seis meses de quarentena. Até lá, a bolsa de apostas não vai parar de girar.