O que a quebra da TT Investimentos pode nos ensinar?
Caso de gestora mantida por sobrinhos do ex-BC Armínio Fraga mostra importância de segmento para evitar concentração de investimentos em grandes bancos
Há duas semanas, a TT Investimentos foi à bancarrota depois de perder cerca de R$ 500 milhões em uma operação com ações da Clarus, empresa de tecnologia listada na Nasdaq. Como revelado por esta coluna na quinta-feira passada, dia 08, sócios e clientes perderam tudo o que tinham investido na gestora carioca. E quem são esses sócios e clientes? A TT foi aberta há cinco anos por Arthur Fraga Bahia e João Pedro Fraga Osório de Almeida, sobrinhos do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Entre os cotistas, além do próprio tio, fontes dizem estava o empresário Marcel Telles – sócio da poderosa 3G Capital, ao lado de Jorge Paulo Lemann e Beto Sicupira.
“Saibam que mais de 95% do meu patrimônio e dos meus sócios estava no fundo. Tudo o que eu juntei até meus 34 anos se foi”, escreveu Arthur, em um e-mail enviado aos cotistas na sexta-feira, depois que o caso ganhou publicidade. Eu conversei com ele por telefone. Arthur negou qualquer irregularidade e disse que “o fundo perdeu dinheiro com uma operação arriscada que deu errado”.
Exceto pelo montante perdido, histórias como essa não são novidade entre executivos da Faria Lima e do Leblon, os dois principais corredores financeiros do País. Para um renomado economista, “há pouco rigor para a abertura de uma gestora no Brasil”. “Elas são criadas como se fossem um restaurante”, compara.
Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), há mais de 850 instituições financeiras e assets registradas no Brasil, com um patrimônio líquido de quase R$ 7 trilhões e reunindo mais de 27 mil fundos. Esse número inclui nomes ligados não só a bancos tradicionais e fintechs de sucesso, mas também de gestoras independentes de menor porte.
Alguém poderia pensar que existe certo “desleixo” de quem deveria zelar pela integridade desse mercado de gestoras menos conhecidas do público em geral – no caso, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a própria Anbima. Mas não é bem assim. A quantidade e a diversidade de gestoras e assets são fatores positivos para o mercado e, em última instância, para o investidor. “Se não existisse essa quantidade de instituições financeiras, haveria forte concentração de assets nos grandes bancos. Concorrência faz bem ao mercado”, avalia um banqueiro. “O próprio mercado se ajusta”, acrescenta ele, referindo-se aos efeitos da quebra da TT.