O inferno astral de Lula
A combinação de queda nas pesquisas, inflação em alta, juros nas alturas e guerra comercial global coloca o governo em uma situação limite para 2026

De olho na disputa pela reeleição, o presidente Lula tem feito de tudo, e o governo não passa uma semana sem anunciar ou indicar a criação de um novo programa social. Até trocou o ministro da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), para a qual convocou Sidônio Palmeira, com o argumento de que precisava “corrigir” os erros de comunicação do governo. Na visão do Planalto, a impopularidade do governo seria decorrência mais da falta de informação do eleitor do que de falhas cometidas pela própria administração. Palmeira é um marqueteiro respeitado no mercado e que comandou a campanha vitoriosa do petista em 2022.
As últimas pesquisas mostram que, se Lula conseguiu estancar a queda de popularidade vista nos últimos meses (e que começava a contaminar até mesmo seus fiéis eleitores em Estados do Nordeste), os índices de reprovação a seu governo ainda superam com folga a nota de aprovação. A questão é que os próximos meses não prometem ser nada fáceis para Lula e seus ministros.
Previsões pessimistas para a economia não faltam, considerando a avaliação de que ainda deve demorar para o Banco Central começar a cortar os juros. Nos mercados financeiro e empresarial, a projeção é de desaceleração mais forte da economia interna a partir do segundo semestre, o que pode ter impacto no mercado de trabalho.
Se já não faltavam motivos para inquietação, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apareceu com mais um: com sua política de “ganha-perde” (e, para ele, os EUA sempre terão de vencer) há o risco concreto de uma guerra comercial e de uma recessão global. Refletindo esse sentimento, as Bolsas mundiais registraram fortes perdas nos dois últimos pregões da semana passada, na sequência do anúncio das tais “tarifas recíprocas”, enquanto o dólar no Brasil retornou ao inflacionário patamar de R$ 5,80.
Embora alguns analistas vejam oportunidades para o Brasil em meio a toda essa turbulência, a situação é incerta e exige habilidades política e econômica para ser aproveitada. Habilidades que parecem ter ficado nos tempos de Lula 1 e 2. Politicamente, o governo torce para que o julgamento do ex-presidente Bolsonaro e dos outros réus em trama para um golpe de Estado no País possa desviar o foco da atenção pública e trazer um alívio temporário para o Palácio do Planalto. Mas, até lá, a batalha de Lula será para não ser engolido pelo inferno astral que cerca o seu governo. Assistindo de camarote, a oposição já comprou seu saco de pipocas.